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terça-feira, 26 de abril de 2016

Conservador é aquele que protege da violência

As Palavras e o Debate Público


“As palavras se distendem, estalam e muitas vezes se quebram, sob a carga.” – T.S. Eliot

A obra de George Orwell denominada 1984 está mais realista a cada dia que passa. Além do estado policial que vemos surgir nesta era virtual, há em todo lugar a questão da linguagem. O filósofo político Eric Voegelin, que tinha aversão às ideologias totalitárias do século XX – comunismo, socialismo, fascismo, nacional-socialismo -, lembrava-nos que “as ideologias destroem a linguagem, uma vez que, tendo perdido o contato com a realidade, o pensador ideológico passa a construir símbolos não mais para expressá-la, mas para expressar sua alienação em relação a ela.” 

No intuito de atender as demandas da ideologia, introduz-se o que Orwell chamou de “novilíngua”, de modo que tal língua atenda aos interesses governamentais e elimine os adversários do debate. Deste modo, criar-se-ão uma lista de termos proibidos e cria-se a ditadura politicamente correta do vocabulário.

Faz-se necessário, portanto, selecionar algumas palavras que são ouvidas com maus ouvidos e lidas com maus olhos. Começo com a palavra “ordem”.

Ordem, na novilíngua revolucionária, é algo autoritário que deve ser alterado a qualquer custo, independente do resultado final. É necessário derrubar a “ordem vigente” e mudar “tudo o que está aí”. Embora o estoque de frases prontas para justificar a rebeldia à ordem seja infindável, as motivações se resumem a isso.

Ordem, ao contrário do dicionário revolucionário, significa harmonia. Não se trata de engenharia social, nem de militarismo e muito menos de uniformidade. A palavra se traduz na harmonia de elementos diferentes. O princípio de isonomia, o qual é defendido pelo Estado liberal, só pode existir caso exista ordem. A liberdade de criar, empreender e se expressar só é possível através de uma ordem pré-existente. Antes da justiça e da liberdade serem viáveis – terminologias que ainda não foram totalmente eliminadas, pois a distorção delas é útil àqueles que desejam mudar o mundo -, havia a ordem. É evidente, portanto, que querer estabelecer a justiça e a liberdade sem a ordem é o mesmo que querer construir um edifício sem alicerce.

Tendo em vista o fato de sermos um país intelectualmente colonizado por franceses, a influência do positivismo de Auguste Comte prevaleceu, e nossa bandeira tem a sentença “Ordem e Progresso”. Tal influência positivista é contraditória com o real conceito de ordem, tendo em vista que o progresso da maneira que os positivas ensinavam rompia a harmonia de uma sociedade. Prova disso é que todos os governos do mundo que acreditaram em tecnocratas na administração pública definindo as normas de uma sociedade de cima para baixo fracassaram. Para que a ordem exista, faz-se necessária a adequação do governo com os costumes e as tradições do povo governado.

A segunda palavra é considerada obscena no meio acadêmico. Trata-se da palavra “conservador”. Quem assim se entitula nos dias atuais, é visto como um torturador do DOPS. Deste modo, nota-se uma clara confusão: conservador não é o mesmo que reacionário. 

Conservador vem do latim conservator, e conservator é aquele que protege dos ferimentos, da violência e das infrações.

O conservador não é reacionário, mas sim reativo. Reacionário é aquele que deseja restaurar algo que foi perdido e a sociedade não é mais capaz de se adequar. Enquanto isso, o conservador é reativo. Enquanto ele preserva as instituições consagradas pela experiência e pelos testes do tempo, também admite que “um Estado sem meios de empreender alguma mudança está sem meios para se conservar” – nos dizeres de Edmund Burke. Joaquim Nabuco, abolicionista e importante figura política durante o Império, pertencia ao Partido Conservador. Certamente Nabuco não era um torturador do DOPS, e muito menos desejava manter algo em decadência – e que havia sido praticamente abandonado no restante do mundo – como a escravidão. Nota-se a clara diferença entre o caráter reacionário e o caráter reativo.

O conservador defende reformas, e não mudanças. Mudanças demasiado bruscas podem ter efeitos inversos ao desejado. A reforma é mais prudente e busca conciliar todas as partes envolvidas. Além disso, o conservadorismo é muitas vezes tratado como uma ideologia, mas não o é. Trata-se de uma disposição, um estado de espírito, que representa a ideologia anti-ideológica. Conservadorismo consiste na defesa dos elementos mais duradouros criados por uma sociedade em detrimento de ideias artificiais criadas por indivíduos que amam a humanidade e não são capazes de amar o próximo.

Responsabilidade é mais uma palavra da lista negra do vocabulário da novilíngua. Em se tratando de assuntos de estado então, é uma palavra abominável. Muitos se veem constrangidos ao ouvir tal palavra como se lembrasse das broncas que recebia dos pais pela falta dela em seu cotidiano. Responsabilidade, no entanto, é um item essencial na vida real. Frédéric Bastiat nos alertou no século XIX: todos querem viver às custas do Estado, mas se esquecem que o Estado vive às custas de todos. É confortante viver baseado numa “culpa social” que te permite ser irresponsável e a desprezar a palavra. porém, não há como refutar a realidade: ninguém nos deve nada neste mundo e somos responsáveis pelas nossas ações e condutas pessoais. Histeria e psicose são maneiras de fugir da realidade e ver o mundo de maneira “alternativa”, embora não sejam meios nada saudáveis para este fim.

E, finalmente, há uma palavra que apesar de possuir significado positivo desde sua concepção, tornou-se cada vez mais rara: virtude. Evidentemente é uma palavra fortíssima no – tão apedrejado – meio religioso cristão. No entanto, a secularização do debate público pelas ideologias, comprovando que ideologias não passam de “religiões políticas secularizadas” que defendem a criação da Sião terrestre, tem excluído e ridicularizado os termos de cunho religioso do debate político. 

Não há mais educação baseada em virtudes, apenas na moral e na verdade relativa. O caráter “moralista” da palavra também é tratado como autoritário, apesar de todos termos ciência da importância das virtudes para a comunidade humana. A aversão às virtudes, intrínseca ao discurso ideológico, que pretende tornar a ideologia a portadora das verdades morais, induz-nos à aversão às palavras: castidade, generosidade, temperança, diligência, paciência, caridade e humildade. Chegamos a um ponto em que proferir tais palavras o faz parecer medieval. Em tal realidade, em que as virtudes são rejeitadas, só podemos esperar por gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça e vaidade. Simultaneamente aos xingamentos recebidos por ser “demasiado carola” ao afirmar isto, evidencia-se a concretização de todos estes pecados.

Devemo-nos lembrar que há também as virtudes humanas. Tanto a doutrina social da Igreja quanto o filósofo grego Platão e o irlandês Edmund Burke acreditavam na importância da prudência. Enquanto a primeira utilizava-a – e ainda a utiliza – para fins civilizacionas, os dois últimos recomendavam seu emprego na política. Era a primeira virtude, o primeiro princípio a ser adotado pelo homem público. Tal verdade se mantém da Grécia Antiga, passando pela Idade Média, até os dias atuais, o que a caracteriza como uma verdade moral permanente. 

A imposição de princípios que alteram o modo de agir, de ser, de pensar e de falar das pessoas, contrariando seu livre arbítrio, tem se tornado mais bonitos que os “autoritários” princípios morais. É aquilo que o escritor C.S. Lewis chamou de “a abolição do homem”, tornando-nos simples peças de tabuleiro, destituídas da condição humana, controladas por políticos e burocratas que se julgam oniscientes e onipotentes, conforme rezam os cânones de suas “religiões políticas”. 

Eric Carro, 03/01/2014
  

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