Meu
plano, esta semana, era interromper a série de considerações deprimentes
sobre a hedionda política nacional e mundial e oferecer aos leitores
alguma coisa mais divertida. Tinha tudo para isso. Aos 67 anos, pela
primeira vez na vida fiz uma viagem de recreio e estou em plena floresta
do Maine, com meu filho Pedro e meu amigo Sílvio Grimaldo, caçando
ursos pretos.
É uma
região de beleza indescritível; os guias são pessoas gentilíssimas, de
maneira que a gente se sente em família. O alojamento até parece um jogo
de casinhas de brinquedo e a comida é de primeira ordem. Todo dia os
guias nos levam por uma estrada de terra de onde partem as trilhas
individuais que seguem pelo meio do mato até a cadeirinha onde nos
encarapitamos para esperar o urso, atraído – espera-se – pela isca
plantada num barril aberto.
Meu
urso não deu ainda o ar da sua graça, especialmente porque ontem choveu
um bocado e urso preto não gosta de chuva, mas vou continuar tentando.
Levo uma Browning calibre 300 Winchester Magnum, suficiente para
derrubar três ursos em fila, e minha pontaria não é de todo má.
Tinha
uma boa oportunidade, portanto, para entreter os leitores com umas
histórias de caçadas, mas, porca miséria, até aqui a maldita política
globalista já chegou, firmemente decidida a estragar tudo e provar que
"outro mundo é possível". É claro que é possível. Impossível será viver
nele sem começar a pensar em suicídio aos trinta anos de idade.
Será um
mundo totalmente administrado, sem o mínimo espaço para a
espontaneidade humana, onde o último arremedo de emoção consistirá em
consumir drogas fornecidas pelo governo e praticar sexo industrializado.
Traços desse mundo já se vêem por toda parte, exceto na Rússia, na
China e nos países islâmicos, que preferem versões mais antiquadas do
inferno.
A
situação por aqui é a seguinte. O Maine tem uns trinta mil ursos pretos.
Para impedir que comam todos os bebês de alces, é preciso matar uns
cinco mil por ano. As leis e regulamentos já complicaram a coisa de tal
modo que não se consegue matar nem a metade disso. Em resultado, a
caçada de alces, antes um esporte popular, tornou-se privilégio de um
punhado de ricaços, e mesmo estes têm de entrar numa loteria e esperar
sua chance.
A carne
de alce é uma delícia, e no meu modesto entender é muito mais decente
comer um bicho perigoso que você mesmo matou com risco próprio do que
devorar cinicamente uma vaca indefesa assassinada a marretadas na ponta
de uma baia sem saída.
Mas
agora a tal da Humane Society, uma organização gigantesca subsidiada por
George Soros e outras criaturas adoráveis, inventou um referendo para
proibir a caça com isca, com cachorros e com armadilha, restando só a
chamada “still hunting”, que consiste em andar pelo mato até encontrar
um urso, o que é quase impossível.
Tom
Hamilton, nosso guia, disse que em dez anos só viu assim um único urso,
de longe. O urso preto não é metido a valentão como o grizly. É bicho
arisco, que se esconde como um ladrão furtivo. Se o voto "Sim" vencer, a
superpopulação de ursos vai acabar de vez com os alces, invadir o
espaço humano e ameaçar os animais domésticos. Será o perfeito paraíso
ecológico.
Durante
milênios as comunidades humanas mantiveram-se a salvo de animais
ferozes graças a um vasto círculo de proteção constituído de caçadores,
guardas florestais, fazendeiros etc. É assim até hoje. O típico cidadão
urbano dos nossos dias ignora a existência desse círculo e imagina que é
simplesmente natural os bichos ficarem em paz no seu "habitat", como
que obedientes a um imenso Registro Cósmico de Imóveis, só se tornando
perigosos quando seu território é "invadido" por malvados seres humanos.
Isso é
de uma estupidez monstruosa.
O "habitat natural" de um urso ou de um
lobo não é um lugar fixo: é onde ele encontra uma comida do seu agrado.
Pode ser um galinheiro, uma fazenda de gado ou uma pequena cidade. Se
ele não passa daí é porque alguém lhe deu um tiro.
O
idiota urbano, a milhares de milhas, intoxicado de maconha, tagarelice
ideológica e programas de TV, acredita-se protegido pela gentileza das
feras e pelo milagre do "equilíbrio ecológico". É preciso ser muito,
muito burro para acreditar que, deixada a si mesma, ou mantida como um
santuário inviolável pelos cultores do animalismo, a Mãe Natureza
resolverá tudo na mais perfeita harmonia.
Essa
gentil progenitora já liquidou mais espécies animais do que toda a
humanidade caçadora reunida. De todos os fatores naturais, o homem é o
menos mortífero. É aliás o único que se preocupa em preservar as outras
espécies. Nenhum tigre faz passeata de protesto quando um de seus
parentes come quatrocentos indianos pobres e desarmados. Nenhum grizly
publica editoriais indignados quando um da sua espécie mata dezenas de
filhotes, fêmeas e ursos mais fracos.
Não por
coincidência, todo o movimento pela proteção às espécies animais foi
uma invenção de caçadores, como Theodore Roosevelt nos EUA e Jim Corbett
na Índia. Caçadores sabem o que é bom para os animais, para os seres
humanos e para a convivência razoável entre as espécies. Políticos e
intelectuais iluminados só pensam em si mesmos e inventam os mais belos
pretextos para mandar em tudo.
Façam
as contas. No Maine, onde a caça aos ursos ainda é um hábito comum,
acontecem quarenta – sim, quarenta – vezes menos situações de risco
entre ursos e pessoas do que em Connecticut, onde a caça é totalmente
proibida e existem apenas 450 ursos em vez dos trinta mil do Maine.
Quem
protege melhor a população humana e animal? Os caçadores ou o governo?
P.S.
– Meu amigo Sílvio matou seu urso na quarta-feira. O meu e o do Pedro
não deram as caras ainda. Na foto da página não apareço com a minha
Browning, mas com a CZ 550 que emprestei ao Sílvio.
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