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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A pior pobreza é a miséria moral.

Os pobres têm responsabilidade por sua condição, defende autor britânico [TITULO ORIGINAL]

Eis uma tese polêmica: em boa medida, os pobres merecem sua condição.

Ela está no livro “A Vida na Sarjeta”, de Theodore Dalrymple, lançado no Brasil pela É Realizações. O prefácio é do professor de Stanford Thomas Sowell.

O autor é um psiquiatra britânico que atendeu por vários anos pacientes de bairros pobres e penitenciárias na Inglaterra.

Segundo ele, impera entre eles a vitimização.

“Quando um desses homens me diz, para explicar o seu comportamento [com drogas ou no crime], que se deixa levar facilmente, pergunto-lhe se alguma vez se deixou levar pelo estudo da matemática ou do subjuntivo dos verbos franceses.”

Nas escolas desses locais, os poucos alunos que se dedicam são vítimas de perseguições e agressões físicas. Há constrangimento geral para que todos “optem pelo fracasso”, inclusive pela adoção de vestuário e linguagem característicos do que Dalrymple chama de “subclasse”, que detonam qualquer potencial empregabilidade.

Em outros termos, vocês não se ajudam, está dizendo o britânico.

“Uma das terríveis fatalidades que podem recair sobre um ser humano é nascer inteligente e com sensibilidade em um bairro pobre inglês”, escreve Dalrymple. “Será longa a tortura.”

Sowell, que é americano, lembra que, no seu país, algo parecido acontece nos guetos negros –os poucos jovens dedicados aos estudos, que almejam ascender à elite, são espancados por estarem “agindo como brancos”.

Por lá, os intelectuais interpretam isso como uma reação ao racismo da sociedade. Mas como justificar então que a mesma coisa aconteça na Inglaterra, onde a maior parte dos pobres é branca?

Tal desprezo ao estudo e ao trabalho seria recente, posterior ao Estado de bem-estar social, e causada pelo comodismo, escreve o britânico: “Afinal, sempre haverá comida suficiente, um teto sobre a cabeça e uma televisão para assistir, graças às subvenções do Estado.”

Com o passar dos anos, sem nenhum conhecimento de ciência, arte ou literatura, só restará o tédio, a falta de sentido.

“Na ausência de interesses ou carreira, logo a maternidade parece uma boa escolha; só depois fica claro o quanto é aprisionante, especialmente quando o pai –de modo previsível– desaparece.”

Suas casas são imundas e descuidadas, defende Dalrymple, até porque são dadas sem nenhum encargo pelo Estado.

Como o governo parte do princípio de que o miserável nunca tem responsabilidade por sua miséria, as moradias seriam distribuídas justamente aos mais vagabundos –quem, a duras penas, se dedica a conseguir um emprego e tem sucesso na empreitada perde prioridade com os assistentes sociais, o que só reforça o incentivo à passividade.

EDUCAÇÃO


Uma crítica importante que se pode fazer à tese de Dalrymple é que ele próprio admite que a miséria da educação pública tem um papel grande na vida que os pobres acabam levando.

“Meu pai nasceu em um bairro pobre nos anos que antecederam a Primeira Guerra onde uma a cada oito crianças morria no primeiro ano de vida. Naqueles tempos, entretanto, quando algumas crianças londrinas iam à escola descalças, o círculo vicioso da pobreza ainda não havia sido descoberto”, escreve.

“Dessa maneira, meu pai recebeu lições de latim, francês, alemão, matemática, ciências, literatura e história, como se fosse plenamente capaz de ingressar na corrente da civilização superior.”

Dalrymple afirma que isso acabou, por ação da ideologia dos intelectuais, que passaram a defender que educar os jovens pobres para que ingressem na elite, cobrando empenho, seria uma forma de oprimi-los, não de salvá-los. Deveríamos simplesmente aceitar a cultura da “subclasse”, tão válida quando qualquer outra.

“Encorajar as crianças a fugir da herança de infinitas novelas e música pop, pobreza, imundice e violência doméstica é, aos olhos de muitos professores, encorajar a traição à classe social. É algo conveniente, porque absolve o professor da responsabilidade tediosa de ensinar.”

Dalrymple defende que aprender doí. Em outras palavras, ninguém gosta muito –quanto mais uma criança– de ter de se esforçar para entender elementos da gramática ou da aritmética. Mas será impossível sair da pobreza sem essas coisas…

A partir dos anos 1960, surgiu na Inglaterra a noção de que a educação deveria “fazer sentido” no contexto social da criança e ser prazerosa a ela.

Como o contexto social das crianças pobres é o analfabetismo funcional, elas acabaram confinadas à própria condição –“um fato óbvio para quem leu as tentativas lamentáveis de as pessoas da subclasse se comunicarem por escrito”.

VIOLÊNCIA

Por fim, chama a atenção como Dalrymple pinta um retrato de violência nas periferias. Os mesmos homens cujas dores crônicas nas costas lhes impedem, para sempre, de arranjar um emprego, recebendo aposentadorias por invalidez, não perdem uma briga de bar.

Como no Brasil, alguns poucos moradores se refugiam nas igrejas –os “crentes”, tolerados pelos traficantes e bandidos de toda cepa, desde que fiquem na sua.

“Marx estava certo ao dizer que a religião é o suspiro do oprimido, o ópio do povo. É claro, errou a identidade do opressor: na Inglaterra de hoje, não é o plutocrata envaidecido, é o vizinho traficante que ouve música nas alturas e bate com bastão de baisebol nos outros.”

Mas o pior é a violência doméstica, onipresente. A maior parte das crianças não tem pai; os padastros se substituem com rapidez e normalmente batem nas mães.

Muitas das pacientes de Dalrymple são vítimas seriais de agressão doméstica. Ele diz que são raríssimos os casos em que não era evidente que o sujeito era violento antes mesmo do relacionamento.

Mesmo assim, tal comportamento é tolerado por elas, que repetidamente pedem para que ele não faça nenhum tipo de denúncia, porque afinal o agressor agora vai mudar…

“A verdade é que a maioria (embora nem todas) das mulheres espancadas contribuíram para essa situação infeliz pela maneira como resolveram viver.”


por Ricardo Mioto,  Folha

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