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domingo, 6 de maio de 2018

Eric Voegelin: diagnosticou a doença dos Neoconservadores

Eric Voegelin: diagnosticou a doença dos Neoconservadores

Eric Voegelin muitas vezes é reconhecido como principal figura no pensamento conservador do século XX – um de seus conceitos inspiraram um termo muito usado na direita por décadas, “não imanentize o escathon” – ainda que tivesse rejeitado rótulos ideológicos. Em sua juventude, em Viena, atendeu aos famosos seminários de Mises, onde desenvolveria amizades duradouras com figuras que se tornariam importante no renascimento do liberalismo clássico, como F.A Hayek, mas que posteriormente rejeitaria seu libertarianismo como outra derivação equivocada do projeto Iluminista. 


Voegelin tem sido às vezes comparado com o teórico político Michael Oakeshott, o qual admirava grandemente seu trabalho, mas Voegelin baseava sua teorização política em uma visão espiritual, de modo muito alheio ao pensamento de Oakeshott. Voegelin certa vez escreveu, “Tenho sido chamado de todo tipo de nome imaginável pelos partidários desta ou aquela ideologia… um comunista, um fascista, um nacional socialista, um liberal antigo, um liberal moderno, um judeu, um católico, um protestante, um platonista, um neo-agostiniano, um tomista, e por fim um hegeliano.”

Quaisquer que sejam os seus paradoxos, Voegelin era, acima de tudo, um apaixonado buscador da verdade. Ele nenhuma atenção prestava a que partido suas descobertas agradariam ou desagradariam, e estava disposto a abandonar grandes quantidades de manuscritos, material que poderia ter impulsionado sua reputação como acadêmico, se o desenvolvimento de seu pensamento o levasse a acreditar que precisasse buscar outra direção. Como tal, suas ideias merecem a atenção de qualquer um que sinceramente procura as origens da ordem política. E eles possuem uma relevância marcante, dado as recentes incursões americanas voltadas a consertar os problemas do mundo por meio de intervenções militares em regiões distantes.

Voegelin nasceu em Colônia, Alemanha, em 1901. Sua família se mudou para Viena quando tinha 9 anos, e de lá obteve doutorado em ciência política em 1922, sob a supervisão de Hans Kelsen, o autor da constituição da nova república austríaca, e do economista Othmar Spann. Ele subsequentemente estudaria Direito em Berlim e Heidelberg, e passaria um verão na Universidade de Oxford tendo aulas de Inglês (Ele comentava que seu inglês era tão fraco, que quando chegou, se perguntava do por que de um pregador de rua ser tão entusiasta dos benefícios dos queijos, antes de descobrir que o homem estava na verdade pregando sobre Jesus) Ele então viajou para os Estados Unidos, onde tomou cursos em Columbia com John Dewey, em Harvard com Alfred North Whitehead, e em Wisconsin com John R. Commons, onde ele dizia que descobria pela primeira vez “a América autêntica e real”

Uma vez retornado à Áustria, ele voltou a atender o Seminário de Mises, e publicou duas obras críticas da doutrina do racismo em ascensão. Isso o tornou alvo dos nazistas, levando à sua demissão na Universidade de Viena após o Anschluss. Assim como muitos outros intelectuais austríacos, a investida nazista o fez deixar Viena (Ele e sua esposa planejaram obter seus vistos e fugir para a Suíça no mesmo dia em que a Gestapo viera apreender o seu passaporte em casa). Voegelin eventualmente estabeleceu-se na Universidade do Estado da Louisiana, onde daria aulas por 16 anos, antes de voltar atrás e retornar à Alemanha para promover a democracia constitucional americana em sua terra natal. A hostilidade gerada por sua declaração de que a culpa da ascensão do nazismo não poderia ser atribuída somente à elite do Partido Nazista, mas deve ser compartilhada com o povo alemão em geral, o levou a retornar aos Estados Unidos, onde morreria em 1985.

Durante sua busca pelas origens da ordem social, que durou toda sua vida, Voegelin veio a compreender a política não como uma esfera autônoma de atividade, independente da cultura de uma nação, mas como uma articulação pública de como uma sociedade imagina a relação adequada entre seus membros e com o mundo cósmico. Somente quando as instituições políticas de uma sociedade são produto orgânico de uma concepção amplamente compartilhada, e existencialmente viável sobre o lugar da humanidade no universo, é que se conseguirá obter uma vida social bem ordenada. Como colorário de seu entendimento de vida política, Voegelin rejeitava a fé contemporânea e racionalista no poder dos modelos de constituições bem escritas para assegurar a continuidade da existência de uma organização política saudável. Ele argumentava que “se um governo nada mais é do que uma representação em seu sentido constitucional, um chefe representativo [verdadeiro] irá, logo ou mais tarde, dar fim à ele… Quando um representante não cumpre sua tarefa existencial, nenhuma legalidade constitucional de seu cargo o salvará.”

Para Voegelin, um governo verdadeiramente “representativo” garante, mais do que o argumento relativamente superficial de que os cidadãos possuam alguma voz em seu governo, que sejam também atendidas de forma eficaz as necessidades básicas de “assegurar a paz doméstica, a defesa do território, a administração da justiça, e cuidar do bem-estar da população”. Segundo ponto, uma ordem política deve representar a compreensão dos seus membros quanto ao seu papel no mundo cósmico. Podemos melhor entender o sentido dos conceitos de Voegelin ao se pensar no mundo islâmico, onde tentativas de se criar democracias constitucionais e liberais terminariam por levar às teocracias islâmicas: o primeiro tipo de governo é “representativo”, no sentido estrito e constitucional, enquanto o segundo representa o real entendimento destas sociedades quanto ao seu papel no mundo.

“Como colorário de seu entendimento de vida política, Voegelin rejeitava a fé contemporânea e racionalista no poder dos modelos de constituições bem escritas para assegurar a continuidade da existência de uma organização política saudável. “
Voegelin fez uso de uma extensa análise histórica para defender sua visão do caráter representativo de políticas sadias, análises que apareceram sobretudo em sua grande obra de vários volumes História das Ideias Políticas – no qual não foi publicada em sua maioria, ao longo da vida de Voegelin, devido ao aprofundamento dos estudos mudar o foco de sua pesquisa – e Ordem e História. Esse trabalho foi mais do que apenas uma exposição de suas ideias, uma vez que ele entendia a representação política em si mesma não como uma construção estática e atemporal, mas como um processo histórico em aberto, de modo que uma representação política adequada em uma época e lugar falhará em ser representativa para um período diferente ou povo diferente.

Os tipos de representação mais antigos descritos por Voegelin eram os antigos “impérios cosmológicos”, tais como os do Egito e do Oriente Próximo. Seus governos imperiais foram bem sucedidos em organizar sociedades por milênios, pois estiveram fundamentados em mitologias cósmicas que, enquanto continham fenômenos cíclicos, como o dia, noite e estações, representava a sequência de tais ciclos como eterna e imutável. Eles “simbolizavam a sociedade politicamente organizada como um análogo cósmico… permitindo períodos vegetativos e revoluções celestiais funcionarem como modelos para o ordenamento estrutural e processual da sociedade.”

A atitude mais sensata para os membros de uma sociedade com tal auto-entendimento era reconciliar-se com os papéis fixos no funcionamento deste implacável universo, e inspirador de temor. O imperador ou faraó era um ser divino, o representante da sociedade da chefia divina e da ordem cósmica, e tão inaproximável como os deuses. A derrubada dos impérios cosmológicos no mundo mediterrâneo vieram com as conquistas de Alexandre, o Grande. Após a divisão de seu império entre os generais, depois de sua morte, os novos monarcas não poderiam reivindicar de maneira plausível o mandato divino que os chefes nativos haviam estabelecido como base de suas autoridade, uma vez que sua ascensão estava tão claramente baseada na conquista militar, e não em uma lei antiga de um deus buscando prover aos povos recém-conquistados um guia divino.

“Podemos melhor entender o sentido dos conceitos de Voegelin ao se pensar no mundo islâmico, onde tentativas de se criar democracias constitucionais e liberais terminariam por levar às teocracias islâmicas: o primeiro tipo de governo é “representativo”, no sentido estrito e constitucional, enquanto o segundo representa o real entendimento destas sociedades quanto ao seu papel no mundo.”
A base da polis grega era o panteão helênico. Quando a fé naquele panteão foi abalado pelas obras dos filósofos, a pólis deixou de ser uma forma viável de organização política, tal como os que resistiam à sua decadência reconheceram, quando condenaram Sócrates à morte por não acreditar nos deuses cívicos. Os romanos, um povo não muito propenso à especulação teórica, trataram de manter seu modelo político de cidade-estado republicana por mais tempo do que os gregos, mas os desgastes gerados pelos custos de possuir um vasto império e as exigências de governá-lo ­­– bem como a crescente influência do pensamento filosófico grego em Roma­ – mostraram-se fatais para a república.

Assim, a civilização mediterrânea entrou em um período de crise, caracterizado pelo governo imperial e cínico dos imperadores romanos, bem como por uma busca urgente por um novo princípio de ordenação da existência social entre seus membros, o qual produziria uma infinidade de cultos e credos, que proliferaria durante os séculos imperiais. A crise foi finalmente resolvida quando o Cristianismo, institucionalizado pela Igreja Católica, triunfou como uma nova base para a organização da sociedade ocidental, enquanto a Igreja Ortodoxa, centrada em Constantinopla, cumpriu papel similar no Oriente.

Voegelin considera que a ordem medieval cristã entrou em ruptura devido à desespiritualização da Igreja, resultante de sua crescente atenção ao poder sobre as questões seculares. Sendo bem sucedida em restaurar a ordem civil na Europa Ocidental durante os vários séculos que se seguiram à queda de Roma, a Igreja poderia ter feito melhor, segundo Voegelin, se tivesse abrido mão voluntariamente de sua posição material como a maior força econômica, o que poderia ser justificada nos tempos anteriores como parte do processo civilizatório.” Além disso, as novas teorias da filosofia natural produzidas pela nascente “civilização secular, independente… requeriam uma rendição voluntária do lado da Igreja daqueles elementos civilizacionais antigos que se mostravam incompatíveis com a nova civilização ocidental… [porém] mais uma vez a Igreja se mostrou hesitante em se ajustar adequadamente e no momento certo.”

A crise causada pelo fracasso da Igreja em ajustar sua situação às novas realidades vieram à tona com a divisão da Cristandade Ocidental durante a Reforma Protestante e a ascensão da autoridade do estado-nação sobre a da Igreja.

Os recém dominantes estados-nação tentaram energicamente e repetidamente criar novos mitos que poderiam legitimar o domínio sobre seus súditos. Mas estes foram compostos daquilo que Voegelin chamava de “hieróglifos”, evocações superficiais de um conceito pré-concebido que falhava em expressar sua essência, uma vez que aqueles que o invocavam não haviam ainda refletido sobre realidade por trás do conceito original. Mas como eram empregados fora do contexto do qual sua validade original surgiu, nenhum desses esforços criaram uma base genuína para uma ordem estável e humana.

A percepção de superficialidade dos novos arranjos sociais tornaram-se a motivação e o alvo de uma série de utopias modernas e ideologias revolucionárias, culminando no fascismo e comunismo. Esses movimentos evocavam aquilo que haviam sido símbolos vivos para a Europa Medieval ­­– tais como a “salvação”, o “fim dos tempos”, e a “comunhão dos santos”– mas como os revolucionários haviam perdido o fundamento espiritual daqueles símbolos, eles o perverteram em slogans políticos, tais como a “emancipação do proletariado”, a “utopia comunista”, e a “vanguarda revolucionária”.

Essa análise é a fonte da expressão “imanentize o escathon”: como entendido por Voegelin, esses movimentos revolucionários haviam confundido um símbolo espiritual, o reino dos céus triunfante (o escathon), com uma possível meta na política do mundo, e eles tentavam criar o paraíso terrestre (a imanentização) através da ação revolucionária. Ele descrevia algumas vezes essa necessidade de criar o paraíso na terra pelos meios políticos como “Gnóstica”, especialmente em sua obra mais popular, A Nova Ciência da Política (Voegelin mais tarde viria a questionar a precisão histórica de sua escolha terminológica)

Mas o comunismo e fascismo não foram os únicos exemplos disponíveis quando Voegelin escrevia, as democracias liberais constitucionais, especialmente aquelas do Mundo Anglo-Saxão, resistiram aos movimentos revolucionários. Enquanto Voegelin não era um liberal moderno, sua atitude em relação a estes regimes era consideravelmente mais favorável do que em relação ao comunismo e fascismo. 

Ele via certas tendências nas democracias ocidentais, tais como a reverência pelo bem-estar material e as tentativas de limitar as convicções religiosas à esfera puramente privada, como sintomas da crise espiritual em desdobramento no Ocidente. Por outro lado, ele acreditava que em lugares como a Inglaterra e os Estados Unidos houveram menor destruição dos fundamentos culturais clássicos e cristãos do Ocidente, de modo que as democracias liberais haviam mantido mais recursos culturais para o combate à crescente desordem do que em qualquer outro lugar da Europa no presente.

Como resultado, ele apoiava firmemente as democracias liberais nos seus esforços para resistir ao comunismo e fascismo, e seu retorno à Alemanha no pós-guerra foi acompanhada pela esperança de promover um sistema político inspirado nos Estados Unidos em sua terra natal. Podemos melhor compreender a atitude de Voegelin em relação à democracia liberal como sendo, “Bem, é o melhor que podemos fazer na situação presente.”

“como entendido por Voegelin, esses movimentos revolucionários haviam confundido um símbolo espiritual, o reino dos céus triunfante (o escathon), com uma possível meta na política do mundo, e eles tentavam criar o paraíso terrestre (a imanentização) através da ação revolucionária. “
Ele via o pêndulo da ordem e decadência como sempre em movimento, e estava convencido de que um dia uma nova cosmologia poderia surgir, constituindo a base para uma nova ordem civilizacional. Por enquanto, as democracias ocidentais têm pelo menos conseguido lidar com pessoas com entendimentos profundamente divergentes de seu lugar no mundo cósmico, vivendo vidas decentemente ordenadas e em relativa paz. Sempre um realista, Voegelin não era daqueles de torcer o nariz para qualquer ordem que seja possível para alcançar em nossas circunstâncias reais.

Entretanto, as democracias liberais estão sujeitas a cair como vítimas de sua própria forma de “imanentização do escathon”, se elas tomarem a ordem genuína, e embora limitada, que eles puderam alcançar com a meta universal de toda a história e de toda a humanidade. Esse erro, sugiro, está por trás das aventuras utópicas da recente política externa americana, tanto nas formas neoconservadoras como liberais wilsonianas. A análise de Voegelin do “Gnosticismo” pode nos ajudar a compreender melhor a natureza de tal tendência na política externa ocidental (podemos utilizar o termo “gnóstico” mesmo reconhecendo que sua conexão histórica com o antigo gnosticismo é questionável).

Voegelin de nenhuma forma era pacifista – tanto que comprometeu-se com a ideia de que o Ocidente tinha a responsabilidade de resistir militarmente ao barbarismo expansionista da União Soviética. Ainda que seja pouco provável que ele teria tido alguma paciência com o triunfalismo utópico ocidental muitas vezes exibido pelos neoconservadores e wilsonianos.

A “personalidade gnóstica”, denominada por Voegelin, possui grande dificuldade de aceitar que a inconstância da existência temporal é inerente à natureza da existência. Assim, segundo ele, o gnóstico busca congelar a “história em um reino de definitiva eternidade neste mundo.” A visão comum de que qualquer nação que não abrace alguma forma de democracia constitucional e liberal necessite ser re-educada à maneira ocidental, pela força se necessário, e da consequente obstinação em instalar tais regimes sempre que possível, demonstra a crença de que nós no Ocidente temos alcançado o ápice dos arranjos sociais e que devemos “congelar a história”.

Um dos principais vícios que Voegelin atribui ao gnosticismo é a vontade de viver em um mundo de sonhos e a relutância em aceitar que a realidade perturbe esse sonho. Durante os vários anos de violência caótica que se seguiu à “vitória” americana no Iraque, a dificuldade de evadir continuamente dos fatos que apareciam levavam a alguns que apoiavam a guerra a admitir que as coisas não correram como o esperado, em suas fantasias anteriores à guerra. Mesmo assim, pouco desses realistas relutantes são propensos a aceitar que dar início à guerra foi um equívoco. Uma esquiva popular que eles recorrem é perguntar aos críticos, “Então, você preferiria que Hussein ainda estivesse no poder e ainda oprimisse o povo iraquiano?”.

Essa resposta assume que se a meta é louvável, enquanto avaliada em uma folha em branco no qual todos os argumentos contrários foram eliminados, então a sua busca é completamente justificável. Infelizmente, como demonstrado nos anos pós-invasão do Iraque, foi bem possível depor Hussein e criar ao mesmo tempo maiores infortúnios para os iraquianos. A tradição moral ocidental, vinda primariamente dos filósofos gregos e teólogos cristãos, negavam que um apelo a boas intenções era uma defesa suficiente da moralidade de uma ação. Esta tradição concebia que toda pessoa preocupada em buscar o bem era obrigada a ir mais além, dando o máximo de considerações prudentes dos prováveis desdobramentos de uma escolha que as circunstâncias permitiam.

Mas no mundo dos sonhos gnóstico, perguntar quais são os supostos ganhos e perdas que os beneficiários de uma cruzada virtuosamente motivada podem conseguir é repudiado como uma falta de compromisso com a realidade. O que importa ao revolucionário gnóstico é que seu esquema tenha a pretensão de um resultado nobre; só isso justifica o seu comprometimento. Tal desprezo em considerar as confusas e complexas circunstâncias do mundo real é exemplificada pela prestação de contas da política externa de George W. Bush que um de seus assessores forneceu a um jornalista perplexo, Ron Suskind, que descrevia seu encontro na Revista da New York Times:

“O assessor disse que pessoas como eu estavam ‘na chamada sociedade real’, no qual ele definia como pessoas que ‘acreditavam que as soluções partiam de estudos sensatos de realidades observáveis`. Eu anotei e murmurei algo sobre os princípios iluministas e o empirismo. Ele me cortou. ‘Não é assim que o mundo realmente funciona mais,’ ele continuou ‘Somos um império agora, e quando agimos, criamos nossa própria realidade. E enquanto você está estudando tal realidade ­­– sensata, como queira – agiremos novamente, criando outras novas realidades, na qual você pode estudar também, e é assim como as coisas serão resolvidas. Somos os agentes da história…e a vocês, todos vocês, restarão apenas estudar o que fazemos.’”

Como foi ficando claro que sua aventura no Iraque não correspondia às suas promessas de produzir de maneira rápida e sem custos um regime pró-ocidental, democrático e estável no meio do mundo Árabe, apoiadores da guerra sentiram aversão em conceber a possibilidade de que seu fracasso deveu-se ao seu entendimento irrealista da situação. Ao invés disso, eles muitas vezes buscaram pôr a culpa nas deficiências daqueles no qual tentaram nobremente resgatar, o povo do Iraque. Voegelin notou esta tendência gnóstica algumas décadas mais cedo: “O abismo entre o efeito real e intencionado será imputado não na imoralidade gnóstica de ignorar a estrutura da realidade, mas à imoralidade de algumas outras pessoas ou sociedade que não se comportam como deveriam, conforme a concepção dos sonhos de causa e efeito.”

Muito mais poderia ser dito sobre a relevância da filosofia política de Voegelin na nossa política externa, mas os rápidos pontos apresentados acima devem ser suficientes para persuadir aqueles abertos a tais análises realistas a ler A Nova Ciência da Política, e tirar suas próprias conclusões. Enquanto é verdade que Voegelin resistia a ser rotulado por qualquer classificação ideológica, existem importantes aspectos de seu pensamento que são conservadores em sua natureza. 

Ele rejeitava a noção, algumas vezes presentes no conservadorismo romântico, de que a solução para nossos problemas presentes está no restabelecimento do estado de coisas do passado: ele era muito bem consciente para cair na armadilha do chamado “utopismo nostálgico”, reconhecendo que a história sempre se move para frente, e o passado irremediavelmente para trás. Mesmo assim, reconhecemos que nossas tradições devem ser estudadas mais de perto e compreendidas adequadamente, dado que, enquanto não faz sentido tentar repetir o passado, ainda é apenas pelo entendimento de descobertas alcançadas por nosso antecessores que podemos avançar com alguma esperança de um resultado feliz.

Enquanto as circunstâncias históricas nunca se repetem, Voegelin entendia a natureza humana e sua relação com o eterno como uma tentativa de criar um denominador comum em todos os tempos e lugares, um entendimento que com certeza é o ponto central de qualquer conservadorismo genuíno. Assim, é nossa tarefa criar novamente, em nossas próprias mentes, os avanços brilhantes na compreensão da condição humana que foram alcançados por tais figuras como Platão, Aristóteles, Agostinho e Aquino. 

Esses avanços servem como fundamento dos nossos esforços de responder adequadamente às novas condições de nosso tempo. A mensagem de Voegelin é aquela que qualquer conservador sensato deve tentar prestar atenção.


Traduzido e adaptado do artigo da Imaginative Conservative, Know Your Gnostics: Eric Voegelin diagnosed the Neoconservatives’ disease. Texto no original: http://www.theimaginativeconservative.org/2012/03/know-your-gnostics-eric-voegelin.html

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