“A liberdade não tem subsistido fora do cristianismo.” Lord Acton
A força política mais libertadora na história da humanidade tem sido o
cristianismo (Jo 8.36). O cristianismo ramificou-se do tronco da religião
hebraica piedosa do Antigo Testamento, e a antiga nação hebraica (antes da era
dos reis [1Sm 8]) foi sem dúvida a sociedade mais libertária na história da
humanidade.
O cristianismo herdou da fé veterotestamentária a crença inabalável
no Deus soberano e transcendente, que está acima de todos e julga toda a
humanidade, incluindo seus sistemas de governo civil. A ordem política nunca é
suprema.
1. O Mundo Antigo
O cristianismo destruiu a unidade do antigo mundo pagão. A fonte dessa
unidade era o Estado, geralmente identificado com a própria sociedade, no topo
do qual estava um grande líder político, um rei ou imperador, que pensava ser
um deus ou semelhante a deus. A unidade do antigo mundo pagão consistia na
divinização da ordem temporal na forma do Estado.
Mas o cristianismo reconhecia “outro rei” (At 17.7). Embora não por
meios anarquistas, os primeiros cristãos reconheciam que nenhuma autoridade
terrena, especialmente autoridade política, poderia ser suprema, pois somente a
autoridade de Deus é suprema.
Ao esclarecer a cristologia (a doutrina de Jesus Cristo) ortodoxa, o
Concílio de Calcedônia (451 a.C.) lançou o fundamento da liberdade ocidental.
Apenas Jesus Cristo é divino e humano, plenamente Deus e plenamente Homem, a
única ligação entre céu e terra. Ele é o único Mediador divino-humano. Essa
decisão repudiava dramaticamente toda divinização da ordem temporal. Nenhum
Estado, nenhuma igreja, nenhuma família, poderia ser Deus ou semelhante a Deus.
Esse reconhecimento colocou o cristianismo patrístico em rota de colisão
com a política clássica. Os primeiros cristãos foram perseguidos de maneira
selvagem, não porque adoravam a Jesus Cristo, mas porque recusavam adorar ao
imperador romano. As sociedades politeístas encorajam a adoração de divindades.
Elas resistem à exclusão de todas as divindades, particularmente o Estado,
excetuando-se a Divindade verdadeira, o Deus da Bíblia.
2. O Mundo Medieval
No mundo medieval, a Igreja Latina tornou-se uma força de compensação na
sociedade, verificando e limitando a autoridade do Estado. De fato, na maior
parte do tempo, o tamanho e a força da igreja excederam em muito a de qualquer
Estado em particular. Lord Acton estava correto ao sugerir que a prática da
liberdade política no Ocidente surgiu, em grande parte, a partir deste conflito
medieval Igreja-Estado. Em adição, o mundo medieval, a despeito dos seus muitos
defeitos, apoiou uma grande medida de liberdade política ao promover várias
instituições humanas além da igreja que alegavam fidelidade ao homem: a família,
a confraria, o senhor feudal, e assim por diante. Isso significou que o Estado
tinha de compartilhar sua autoridade com outras instituições igualmente
legítimas. Nenhuma instituição humana pode exercer autoridade suprema.
3. O Mundo Moderno
As limitações constitucionais do poder político, das quais surgiu a
prática de democracias constitucionais dos séculos 18 e 19, começaram na
Inglaterra cristã com a Carta Magna. A Inglaterra também realizou o primeiro
ataque bem sucedido contra a doutrina maligna do direito divino dos reis
durante a Revolução Puritana na primeira metade do século 17; e em 1688-89,
durante a Gloriosa Revolução de Guilherme e Maria, ela colocou o último prego
no caixão desta ameaça permanente à liberdade política. A fundação dos Estados
Unidos foi a maior experiência em liberdade política daquele tempo, e ela
funcionou conscientemente com base em certas premissas distintamente cristãs.
Os Fundadores, por exemplo, reconheceram a doutrina bíblica do pecado
original e da depravação humana, e portanto criaram um sistema de governo civil
que dividiu a tomada de decisão entre vários ramos e que não outorgou muito
poder a nenhum ramo do governo civil. Segundo, eles argumentaram que o papel do
governo civil é assegurar os direitos de “vida, liberdade e felicidade”, com os
quais Deus, como Criador, dotou todos os homens. Em terceiro lugar,
reconhecendo a doutrina bíblica de que o governo civil deveria proteger as
minorias (Ex 23.9), eles elaboraram uma constituição à qual juntaram uma
Declaração de Direitos, inibindo assim o surgimento de uma tirania resultante
de uma rápida mudança política segundo o capricho da opinião democrática.
A liberdade política como refletida na separação de poderes, bem como
nas fiscalizações e contra balanços; o papel do Estado em proteger a vida,
liberdade e propriedade; e a proteção constitucional dos direitos das minorias
– todos estes foram legados do cristianismo ao mundo moderno.
4. A que ponto chegará o Ocidente?
Hoje o Ocidente definha sob a violência do aborto e eutanásia, a praga
do homossexualismo, a pobreza do materialismo, a coerção do socialismo, o
domínio da educação “pública”, o caos do ativismo judicial, e a injustiça do
racismo e sexismo impostos. Essas tiranias são todas o resultado direto do
abandono do cristianismo bíblico. O mundo ocidental tem aceitado crescentemente
a proposta daquele primeiro político liberal moderno, Jean Jacque Rousseau: o
Estado emancipará você da responsabilidade para com todas as instituições
humanas não coercivas, como a família, igreja e os negócios, se apenas você
submeter-se à coerção do Estado. O homem moderno está disposto a negociar a sua
responsabilidade para com a família, igreja e os negócios, trocando-a por
submissão a uma ordem política crescentemente coerciva e violenta. Estamos
retornando ao mundo pagão clássico, no qual o Estado coercivo é o princípio
unificador de tudo na vida.
Os regimes políticos mais cruéis, violentos e assassinos na história da
humanidade tem sido os não-cristãos ou anti-cristãos: o humanismo pagão
primitivo dos antigos Egito, Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma, e o humanismo
secular sofisticado da França revolucionária, União Soviética, China Vermelha,
Alemanha Nazista, Itália Fascista, e outros estados seculares modernos. O humanismo
é e sempre será uma receita para o terror e tirania políticos.
A única esperança para o retorno da liberdade política e da sociedade
livre que ela promove é um retorno ao cristianismo bíblico e ortodoxo. O
cristianismo não é meramente uma matriz na qual a liberdade política floresce;
ele é o único fundamento sobre o qual se pode construir uma sociedade livre.
17 de agosto
de 2000
Fonte:
www.lewrockwell.com
Notes
1. Lord Acton, Essays in Religion, Politics, and Morality, ed. J. Rufus
Fears (Indianapolis, 1988), 491.
2. James Muilenburg, "The Faith of Ancient Israel," in ed.,
George F. Thomas, The Vitality of the Christian Tradition (New York and London,
1945), 9.
3. Ethelbert Stauffer, Christ and the Caesars (London, 1955).
4. Rousas John Rushdoony, The One and the Many (Fairfax, VA [1971],
1978), 161-164.
5. Christopher Dawson, The Making of Europe (London, 1948), 204-208.
6. Lord Acton, Essays in the History of Liberty, ed. J. Rufus Fears
(Indianapolis, 1985), 33.
7. Robert Nisbert, The Social Philosophers (New York, 1973), 125.
8. John Eidsmoe, Christianity and the Constitution (Grand Rapids, 1987),
20-21.
9. Nisbet, op. cit., 145-148.
10. E. Stanton Evans, The Theme is Freedom (Washington, D.C., 1994),
39-56.
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