“Do passado de um povo
levantam-se vozes que ecoam no seu futuro. São as vozes dos que não temeram, as
dos que não se curvaram, as vozes pioneiras, as vozes constantes, as vozes
fiéis e generosas que lhe falaram a inteligência ainda mais que a emoção.
A democracia não é o governo
dos piores e sim o governo em que o maior número escolhe os melhores. No Brasil,
quando o povo em maior número conquistou o direito de escolher, logo se viu
privado desse direito durante dez anos, pelo menos.
Censura a imprensa,
controle governamental sobre a escola e sobre a informação, propaganda política
unilateral e maciça. Eis o que teve o povo brasileiro durante mais de dez anos.
Assim, esse mesmo povo, convocado a escolher, foi deseducado para a escolha.
A
escola que deveria ser a melhor fonte foi depravada e desnaturada. A grande
revolução a fazer no Brasil é a revolução da escola, mas esta não se consegue
sem o voto. Este, por sua vez, não realiza sua obra revolucionária sem o verbo,
sem a pregação, sem a mensagem de entusiasmo e de renovação.
Tudo hoje no Brasil parece
convidar a confusão e ao desalento. A corrupção que se generaliza, a
complacência que atingiu até os centros vitais da nacionalidade, tudo parece
flutuar num mar de desesperança.
Dizia que estão incapazes de reagir, de
sobrepor-se as decepções e reafirmar a sua fé na liberdade e na honra, sem a
qual nação alguma se sustenta.
A infiltração comunista faz-se
as escâncaras, sob pretexto de um falso nacionalismo do qual está ausente o
patriotismo e que se caracteriza pelo desprezo a liberdade e a honra. Esse
nacionalismo que coloca um falso conceito de nação acima de tudo, inclusive da
liberdade de produzir e de consumir, é uma posição tipicamente totalitária da
qual o comunismo se serve para anestesiar as resistências nacionais e instalar
no ventre do cavalo de pau nacionalista os agentes da traição que já encontram
lugar no governo, nas forças armadas e na escola, impunes, estimulados pela
deserção da justiça e pelo cansaço dos bons.
O cansaço dos bons, para me
servir da expressão de Pio XII, fez com que contra um inimigo, para se apossar
da consciência do povo, e instaurar aqui a pior tirania, que é a consentida, a
tirania aplaudida, a tirania sem rebeldia. Tudo concorre para o cansaço dos
bons, a começar pelo dinamismo dos maus. O ruim, no Brasil, parece ser o que
mais atua. Os desonestos serão os mais dinâmicos. Essa lição: a visão de cada
momento da vida brasileira em nossos dias.
Mas por isto mesmo é preciso
reagir. Em cada setor, em cada campo, em cada canto, existem forças de futuro
prontas a eclodir, como uma planta túrgida de seiva, a explodir em flores. Logo
se anuncia a primavera.
O sacrifício e no desencanto do povo, existem imensas
possibilidades de ressurreição do seu civismo e de manifestação de sua vontade
livre.
Tudo depende de não desanimar. Tudo consiste em confiar no valor da
resistência moral. Os que se impuseram pela força dos tanques, depois da
insídia da fraude, podem ter os tanques que quiserem. Falta-lhes sempre a força
final que é autoridade nascida do exemplo e da virtude cívica. Esta, a virtude
cívica, acabará triunfante se ainda a tempo nos decidirmos a valorizá-la em
nós, a despeito de nós, por cima de nossas fraquezas e desesperanças.
Hoje, nesta mesma hora, em
alguma parte deste imenso país, nem tudo são roubos e ações malfazejas. Alguém
trabalha, muitos se esforçam por fazer progredir o país dos governos fazem
marcar passo.
A crise moral e a crise material em que a nação se debate não são
as únicas forças com que ela conta. Esta mesma hora, em muitos lugares do
Brasil, há quem reze, há quem pense, há quem fale, há quem trabalhe com a cabeça,
com os braços, por um progresso ao qual não faltará sentido na medida em que
não nos separemos, não nos percamos, não nos deixemos vencer pelo cansaço.
Cada qual no seu lugar, por
mais modesto que lhe pareça, tem algo a fazer pela terra em que vive, na qual
nascem os que vão suceder ao seu esforço e hão de julgá-lo. Cada qual pode
fazer alguma coisa, e todos querem fazê-la, para que o Brasil invés de afundar
na ignomínia, ressurja.
Para que a liberdade não pereça. Para que a honra
prevaleça e o bem estar do povo, afinal, surja do trabalho e da inteligência do
próprio povo.
Neste momento do mundo, de
apreensões e de perspectivas que vão desde a da destruição a deslumbrante visão
de uma humanidade redimida, o Brasil depende mais do que nunca do amor de seus
filhos. Não continuamos a ser os cidadãos conformados de uma nação na qual quem
rouba é quem manda mais e quem mais manda mais rouba. Não sejamos o paraíso do
tolo e a delícia do esperto. Façamos deste país uma nação consciente.
Confiante
nas perspectivas do poder, serena em face das dificuldades a vencer, mas
decidida a enfrenta-las e realizar na América uma civilização democrática, na
qual, em feliz união, liberdade e autoridade se combinem.
Ao povo
que acreditou em nós, some-se o outro: o que foi intrigado conosco, o que
acreditou na calúnia, e pensando que se libertava, serviu ao que há de mais
tenebroso no pântano: os batráquios que pedem rei, os corruptos que se medem
pela fortuna que amontoam a custa da miséria alheia, os mandarins da República,
os donos de todos os privilégios, os príncipes da corte maldita, os plebeus de
um pátio de ambições horríveis, os cúpidos, os vorazes, os que dominam o Brasil
há vinte e tantos anos e se habituaram a ter este país como uma estância sua e
este povo como seus meros colonos."
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