O mito da superpopulação
Malthus, pioneiro na ideia de que
o mundo não aguentaria tanta gente, previa que a comida do mundo acabaria em
1890. Na década de 60, a ONU (sempre ela) começou a apregoar que isso ocorreria
no fim da década de 70. Hoje, 2012, nunca o mundo desperdiçou tanta comida.
Voltava do Recife, casamento de Jorge Ferraz, onde tive o prazer de encontrar os editores desta revista, e olhava Alagoas pela janela. Notei uma imensa área verde, não parecia haver ninguém, e lembrei como se diz por aí que estamos chegando a um ponto de superpopulação no planeta. Mas isso não é verdade.
Junte todas as pessoas do mundo numa única
multidão. Cabe todo mundo no Distrito Federal. E nem é muito apertado: pense
antes numa missa campal que num show. Dá 0,85m² por pessoa, bem mais tranquilo
que um metrô ou um ônibus. Duvida?
Pergunte ao Wolfram Alpha:
Ok, mas não dá para colocar toda a humanidade numa
multidão. Vamos fazer o seguinte. Vamos dar um lote de 86m² (maior que o meu
apartamento) para cada pessoa do mundo. Cabe todo mundo em Minas Gerais:
E isso que não considerei que as pessoas se
juntam em famílias e que hoje fazemos construções verticais, os prédios. Muitas
vezes acreditamos na balela de superpopulação porque vivemos, a maioria da
humanidade, em grandes cidades, e consideramos impossível que se sustente uma
densidade assim em todo mundo, esquecendo-nos das áreas inabitadas ou de
população muito esparsa, que formam a maioria do território.
Malthus, pioneiro na ideia de que o mundo não
aguentaria tanta gente, previa que a comida do mundo acabaria em 1890. Na
década de 60, a ONU (sempre ela) começou a apregoar que isso ocorreria no fim
da década de 70. Hoje, 2012, nunca o mundo desperdiçou tanta comida.
Há fome no mundo, e sempre houve. As causas são
complexíssimas, mas o excesso de gente não é uma delas. Guerras, pobreza, má
distribuição, ganância, concorrem para a fome muito mais que o excesso de
pessoas.
A pobreza, contudo, tem uma maneira eficaz de ser
combatida: mais gente no mundo! Quanto mais braços a trabalhar, mais riqueza é
produzida. E isso torna-se óbvio ao ver o êxodo rural de meados do século XX,
em que muitos pais de família foram “sozinhos pra capital”, como diz bela
canção de Caetano Veloso. A cidade, com todos os seus problemas, exatamente por
ser uma concentração enorme de pessoas, permite uma geração de riqueza mais
eficaz.
Além de falta de espaço e de comida, outros
problemas podem ser elencados em relação ao crescimento populacional, como a
geração de lixo, e o uso de outros recursos que não alimentos. Para estes
últimos, a inovação científica e tecnológica, aliada à geração cada vez mais
eficiente de riquezas, tem andado em ritmo mais veloz que o aumento
populacional. O lixo depende de novas ideias e uma nova (ou antiga) maneira de
entender o consumo.
A diminuição da população, contudo, traz
problemas reais.
É natural na história que os jovens sustentem os
velhos quando esses param de trabalhar, como um dever de justiça; o próprio
sistema previdenciário é baseado nessa ideia. O aumento da expectativa de vida,
juntamente com a queda nas taxas de natalidade, tornou mais difícil (e cada vez
mais raro) que isso fosse cumprido, e frustrou cálculos previdenciários feitos
há 60 anos. Diversos países que tiveram a sua taxa de natalidade diminuída nos
tempos recentes hoje vivem crises gravíssimas de previdência social.
Alguns países já percebem o mal que a diminuição
populacional causa, e começam a enfrentar o problema. Vários países europeus,
que sofreram um inverno demográfico voluntário e hoje têm medo de uma dominação
islâmica meramente numérica (já que esses últimos não se negam a ter filhos),
hoje dão inúmeras benesses a quem tenha filhos, chegando ao ponto de dar um
valor fixo em dinheiro por mês a cada um que se tenha. Em Cingapura foi feita
uma campanha de extremo mau gosto para que as pessoas dedicassem certa noite (a
Menthos National Night) à reprodução.
O fato: não há superpopulação. O tamanho da
população mundial nunca trouxe problemas por ser grande mas, ao contrário, onde
falta gente abundam problemas. Para mais informação, recomendo a visita a este
site: http://overpopulationisamyth.com.
Luís Guilherme Pereira é
engenheiro de computação e colunista do site da revista Vila Nova, no qual
foi publicado este artigo.
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