Será mesmo que existe a luta “dos bancos contra o povo”? Ou: Você já chutou hoje o traseiro metafórico de um demagogo, leitor? [TITULO ORIGINAL]
Dadas
as falhas possíveis de caráter, a demagogia certamente disputa o
primeiro lugar entre as mais nefastas. Porque não se é demagogo sem que
se seja, também, covarde. Os que apelam aos sentimentos primais das
maiorias só o fazem abusando da ignorância dos ouvintes, na certeza de
que o obscurantismo joga a favor de suas teses. O demagogo é, antes de
mais nada, um farsante. Embora, na aparência, sua pregação pareça
defender os interesses do povo, na essência, ele provoca é a sua
desgraça. Olhem, por exemplo, para a América Latina. Chávez, Cristina
Kirchner, Rafael Correa, Evo Morales, Daniel Ortega… Que destino aguarda
as populações submetidas a suas mentiras e falácias? Olhem, se
quiserem, para o Brasil. Foi preciso, para citar um caso momentoso, que
os aeroportos chegassem ao colapso para que a estupidez cedesse à razão e
se entregasse a sua administração ao capital privado. “Privatas” de
verdade — e, pois, praticantes da “privataria” — são os piratas do
futuro alheio, que resolveram sequestrar um país em nome de suas noções…
privadas de Justiça.
Por que
essa introdução? O Supremo Tribunal Federal começará a julgar daqui a
pouco uma questão que, para os demagogos, opõe, de um lado, milhões de
brasileiros honrados — e, atenção!, não estou dizendo que não o sejam —
e, de outro, banqueiros supostamente malvados, cúpidos, que só pensariam
em lucrar com a desgraça alheia. Leiam trecho de reportagem de Giuliano
Guandalini na VEJA desta semana. Volto depois.
*
Concluído o julgamento do mensalão, o Supremo Tribunal Federal (STF) vai se debruçar agora sobre uma questão que afeta diretamente um número muito maior de brasileiros. Deverão ser julgadas, a partir da quarta-feira 27, as ações que questionam os critérios de correção das aplicações de cadernetas de poupança usados nos planos de estabilização econômica anteriores ao Real. Trata-se de uma disputa de mais de duas décadas. Esses processos, em sua maioria, dizem respeito aos planos Bresser e Verão, editados nos anos 80, e Collor I e Collor II, no inicio dos anos 90. Os juízes de primeira instância, quase sempre, tomaram decisões favoráveis aos poupadores. Como resultado, uma avalanche de novas ações chegou aos tribunais. Estima-se a existência de um total aproximado de 1 milhão de ações individuais e outras 1000 coletivas. Segundo cálculos atualizados do Banco Central, caso o STF julgue inconstitucionais as leis e regras então usadas para corrigir os depósitos, o total dos expurgos a ser pagos aos poupadores soma 150 bilhões de reais.
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Concluído o julgamento do mensalão, o Supremo Tribunal Federal (STF) vai se debruçar agora sobre uma questão que afeta diretamente um número muito maior de brasileiros. Deverão ser julgadas, a partir da quarta-feira 27, as ações que questionam os critérios de correção das aplicações de cadernetas de poupança usados nos planos de estabilização econômica anteriores ao Real. Trata-se de uma disputa de mais de duas décadas. Esses processos, em sua maioria, dizem respeito aos planos Bresser e Verão, editados nos anos 80, e Collor I e Collor II, no inicio dos anos 90. Os juízes de primeira instância, quase sempre, tomaram decisões favoráveis aos poupadores. Como resultado, uma avalanche de novas ações chegou aos tribunais. Estima-se a existência de um total aproximado de 1 milhão de ações individuais e outras 1000 coletivas. Segundo cálculos atualizados do Banco Central, caso o STF julgue inconstitucionais as leis e regras então usadas para corrigir os depósitos, o total dos expurgos a ser pagos aos poupadores soma 150 bilhões de reais.
O
julgamento deverá se estender por diversas sessões, e a decisão final
deverá ser proferida somente em 2014. Mas o tamanho da cifra, se
confirmada a vitória dos poupadores, desde já amedronta o governo e o
sistema financeiro. Não será trivial absorver uma perda de 150 bilhões
de reais. Estudos do Ministério da Fazenda e do Banco Central flertam
para o risco de quebra de instituições. Os efeitos não parariam por aí.
Como os 150 bilhões de reais deixariam de ser registrados como lucro e
passariam a ser prejuízo dos bancos, não haveria o recolhimento de 60
bilhões de reais (40%) em imposto de renda e outros tributos. Um terço
dos 150 bilhões de reais recairia sobre a Caixa, banco público que,
automaticamente, teria de ser recapitalizado com recursos do Tesouro.
Por fim, haveria um impacto brutal no crédito. Os bancos, em média,
emprestam o equivalente a nove vezes o seu capital. Se ocorrer uma
redução de 150 bilhões de reais no capital, o enxugamento na oferta de
crédito seria de 1,35 trilhão de reais — metade do crédito disponível
atualmente.
Um
estrangulamento dessa magnitude teria efeitos avassaladores. Em uma nota
técnica anexada à peça de defesa do governo, o Ministério da Fazenda
afirma que “uma eventual decisão contrária às instituições financeiras”
significaria uma “brusca descapitalização do setor, com possíveis
insolvências e enfraquecimento da solidez do sistema financeiro, e,
consequentemente, impactos severos na economia real”. Um parecer do BC
reforça os riscos: “O impacto potencial dessas ações pode ser
considerado preocupante, dadas as repercussões possíveis sobre o sistema
financeiro, sobre as finanças públicas e, consequentemente, sobre o
crescimento e o emprego no pais”.
O
julgamento entrou para a lista de assuntos de prioridade máxima no
governo, diante da grande possibilidade de derrota. São necessários ao
menos seis de um total de onze votos de ministros do Supremo para
confirmar a constitucionalidade dos planos econômicos. O placar, segundo
fontes do governo, está apertado. O ministro Luís Roberto Barroso deve
se declarar impedido, porque, quando na iniciativa privada, advogou a
favor dos poupadores. Luiz Fux também poderá se declarar impedido,
porque sua filha trabalha em um escritório que atua contra as ações.
Três dos ministros, pelas suas manifestações sobre o tema, tendem a
votar pela inconstitucionalidade. São eles Marco Aurélio, Celso de Mello
e Ricardo Lewandowski. Portanto, para evitar o desastre financeiro para
o Brasil, os demais seis ministros teriam de reconhecer a
constitucionalidade daquelas leis. Como parece ser seu destino, há a
possibilidade de que seja de Joaquim Barbosa, presidente do STF, o voto
decisivo.
Por anos, o
governo e os bancos não deram a devida atenção a essas ações. Ambos
julgavam que as reivindicações eram improcedentes e, cedo ou tarde,
seriam derrubadas. Não foi o que ocorreu. A questão acabou sendo
tratada, nos tribunais, pelo seu lado social, como um embate entre
grandes bancos e pequenos investidores. Agora, pelo volume de dinheiro
envolvido, o que está em julgamento no STF se o Brasil vai ser jogado em
uma crise financeira e fiscal sem precedentes. Do ponto de vista
puramente jurídico, a filigrana reside em avaliar se os bancos podiam
ter se recusado a cumprir as leis que deram sustentação aos planos
econômicos impostos pelo governo.
Obviamente,
eles não tinham essa alternativa. Se desobedecessem, ficariam sujeitos a
multas e até à suspensão de funcionamento. Além disso, se os planos
fixaram a poupança no primeiro mês abaixo da inflação, eles garantiram
que também os aluguéis e as prestações da casa própria fossem
reajustados por índices inferiores. Se o STF considerar as leis
inconstitucionais, os inquilinos que pagaram aluguéis mais baratos vão
ter de ressarcir os proprietários dos imóveis? Da mesma forma, quem teve
as prestações da casa própria ajustadas abaixo da inflação vai ter de
pagar a diferença às instituições financiadoras? Essas perguntas dão a
dimensão do caos que se instalaria na hipótese de o STF tirar o chão
constitucional das leis que deram sustentação jurídica aos planos
econômicos.
(…)
Retomo
A correção da poupança, como se nota, foi
apenas um item da equação econômica, era apenas um dos “preços” da
economia. Havia outros, que estavam atrelados aos mesmos índices. Não há
como fazer a história girar para trás. De resto, um dos pilares das
decisões judiciais é a razoabilidade, ou não existe justiça.
Fora do
STF, os demagogos estão assanhados. Sabem como é… Demonizar banqueiros,
no Brasil e no mundo, rende simpatizantes, leitores, admiradores… O
sujeito pode até ficar com a fama de “corajoso”, como se corresse algum
risco. Em tempos em que black blocs depredam bancos, sob o silêncio
cúmplice ou mesmo o entusiasmo de alguns de nossos pensadores e
colunistas, defender que eles arquem com a correção da poupança de
planos de décadas passadas parece coisa pouca, até pequena.
Ao longo
dos anos, as grandes instituições bancárias poderão dar um jeito de
recuperar ou minimizar suas perdas. Pior será para o país — e, portanto,
para os brasileiros —, que arrecadará menos impostos, que verá minguar o
crédito, que arcará, sim, com uma parcela considerável do rombo, já que
a Caixa Econômica Federal seria uma das mais prejudicadas.
Receios
Em tempos um pouquinho mais normais, eu
talvez não temesse o risco de o Supremo tomar uma decisão errada. Hoje
em dia, tenho cá minhas reservas. A Justiça e as instituições, de modo
geral, andam com medo da chamada “voz das ruas”. Na imprensa, os
“odiadores” profissionais de bancos já babam suas ignorâncias — afinal,
são muito bonzinhos e gostam do povo…
Espero que
as ministras e os ministros do Supremo Tribunal Federal apelem a alguns
especialistas e peçam que estes façam as contas para saber quanto uma
decisão errada, mas “boazinha”, poderia custar NÃO AOS BANCOS, MAS AOS
BRASILEIROS.
Se o voto
de Minerva couber mesmo ao ministro Joaquim Barbosa, espero que ele
salve o “povo” das tentações da demagogia. Terá prestado um outro
serviço inestimável aos brasileiros.
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