Em 2002, em pleno pânico com ataques terroristas que tinham derrubado as
Torres Gêmeas, a segurança americana, em estado de alerta máximo, revistava
qualquer cidadão que chegasse ao país, fosse ele comum, tripulante de avião ou
até mesmo diplomata. Celso Lafer, ministro das Relações Exteriores de FHC, foi
convidado a tirar os sapatos ao chegar aos EUA, para poder passar nos
detectores de metais. O episódio foi fartamente explorado pelo Lula na sua
suprema capacidade de destruir biografias. Assistam ao vídeo. Agora vejam o que
aconteceu com Celso Amorim, ministro da Defesa do Brasil, humilhado pelos
bolivianos. Onde está o boquirroto Lula?
Meses antes de expressar repúdio pela retenção e
revista do avião de seu presidente na Europa, sob suspeita de que levava o
ex-agente da CIA Edward Snowden, o governo boliviano reteve e revistou a
aeronave que levaria o ministro da Defesa, Celso Amorim, de volta ao Brasil
após uma visita à cidade de Santa Cruz de la Sierra, no ano passado. A busca,
feita inclusive com cães farejadores, aconteceu em meio a suspeitas de que
Amorim levava a bordo o senador de oposição Roger Pinto, que está refugiado há
mais de um ano na Embaixada do Brasil em La Paz.
A informação, divulgada no último fim de semana
pelo site "Diário do Poder", do jornalista Claudio Humberto, foi
confirmada ao Valor por fontes do governo brasileiro. O incidente ocorreu em 3
de outubro do ano passado, segundo as fontes, quando Amorim visitou a Bolívia
para a doação de dois helicópteros da Força Aérea Brasileira (FAB) ao país,
para serem usados no combate ao narcotráfico.
Segundo as fontes do governo brasileiro, o
Itamaraty emitiu uma nota de protesto pela vistoria do avião de Amorim. Uma das
fontes afirma que, em resposta, os bolivianos "responderam com um pedido
de desculpas". Outra fonte afirma que Amorim permitiu a revista do avião,
que pertence à FAB. O incidente vinha sendo mantido em segredo pelos dois
países.
Questionado pelo Valor, o Ministério da Defesa
disse que não comentaria o assunto. Já o Ministério das Relações Exteriores
disse que "a assessoria de imprensa não tem conhecimento dessa
informação" [a vistoria do avião de Amorim e a nota de protesto]. Já o
Ministério das Relações Exteriores da Bolívia "não confirma nem nega"
o incidente.
A informação vem à tona poucos dias depois da
indignação expressada por quase todos os países sul-americanos com a retenção
do avião do presidente da Bolívia, Evo Morales, na Europa, no dia 3 de julho.
Na ocasião, Itália, França, Espanha e Portugal fecharam seu espaço aéreo para o
avião presidencial. Isso obrigou a aeronave a pousar na Áustria, onde ela foi
revistada. O episódio ocorreu por conta da caçada promovida pelo governo
americano a Snowden, que revelou no mês passado que o Wa-shington monitora
dados de internet e telefonemas para "combater o terrorismo". Os
países europeus negaram que o incidente tivesse relação com Snowden.
O caso gerou uma reunião de emergência da Unasul
(União de Nações Sul-Americanas) e foi destaque da agenda da cúpula do
Mercosul, na semana passada. Reunidos em Montevidéu, os presidentes de Brasil,
Argentina, Uruguai e Venezuela decidiram convocar seus embaixadores nos quatro
países europeus para consultas - uma medida diplomática que sinaliza um forte
mal-estar entre os países, sem implicar rompimento das relações bilaterais.
O senador Roger Pinto chegou à embaixada brasileira
em La Paz em 28 de maio do ano passado. Alvo de mais de 20 processos judiciais,
ele diz sofrer perseguição política após ter denunciado o envolvimento de altas
autoridades do governo boliviano com o narcotráfico. Pinto pediu e recebeu
asilo político da presidente Dilma Rousseff, mas permanece na embaixada, pois
Morales se recusa a conceder-lhe um salvo-conduto para que ele deixe o local
sem ser preso.
Brasil e Bolívia formaram uma comissão bilateral em
março para tentar uma solução, mas a embaixada está alijada do caso. Para
Morales, o embaixador brasileiro em La Paz, Marcel Biato, passou
"informações incorretas" a Dilma a respeito do senador. A ministra da
Comunicação boliviana, Amanda Dávila, chegou a chamar Biato de "porta-voz
da oposição".
O mal-estar levou à troca do embaixador, a pedido
de La Paz, apurou o Valor. Biato deve ir para a Suécia. Ele já recebeu o
"agrément" de Estocolmo, mas seu nome ainda tem que ser aprovado pelo
Senado brasileiro. (Valor Econômico)
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