A idade moderna é tida como um período de transição entre o mundo contemporâneo e a idade média. Dessa forma, a idade moderna foi palco de diversas transformações, sejam elas culturais, sociais, e até mesmo econômicas. Uma das características mais marcantes dessa transição da idade média para a idade moderna foi justamente no aspecto econômico, no que foi marcado da gradual mudança do sistema feudal para o sistema capitalista.
Isso, inclusive, é elucidado na data escolhida para marcar o início da Idade Moderna: 29 de maio de 1453, a queda de Constantinopla, que marcou o monopólio do Império Otomano sobre as rotas comerciais terrestres no Oriente Médio, incentivando as potências europeias a buscarem rotas marítimas para promoverem o comércio com as Índias, o que eventualmente levou à descoberta da América em 12 de outubro de 1492.
Por mais que a idade moderna seja marcada, no aspecto econômico, pelo surgimento do capitalismo, o seu processo de desenvolvimento pode ser visto claramente nos séculos finais da idade média. No entanto, é válido lembrar que o sistema feudal não significa a inexistência de excedentes de produção. Os camponeses trabalhavam na terra do senhor feudal e, após entregar a quantidade de produtos necessários, mantinham o excedente para si. Seria da opção do camponês comercializar os seus excedentes com outras cidades, ou estocá-los.
Por mais que esse ato de compra e venda de excedentes seja característico do sistema capitalista que surgiu na idade moderna, não significa que essa prática seja puramente capitalista. O comércio de excedentes da idade média não tinha como propósito a acumulação de capital, que é o objetivo do sistema capitalista, mas sim o puro acesso aos bens que, como especiarias e tapeçarias que vinham do Oriente Médio, eram um sinal de status. Isso também seria característico no comércio da alta sociedade na idade média, já que com a ascensão do capitalismo, a nobreza feudal europeia se viu cada vez mais pobre e possuindo apenas um único bem verdadeiramente valioso: terras.
Com a ascenção de uma classe burguesa a partir do século XV, a nobreza feudal começou uma tentativa de equiparação em riquezas com essa nova classe social, e por isso começaram a comercializar terras, de onde surgiram os primeiros cercados e, dessa forma, iniciando o conceito atual de propriedade privada. O trabalho assalariado também começou a surgir durante essa transição da economia feudal para a economia capitalista. Os primeiros Estados a empregarem o trabalho assalariado foram o Sacro Império Romano-Germânico, que pagava os mineiradores das minas de prata de Tirol com ducatos, e os mineiradores de alumínio dos Estados Papais, que recebiam seu soldo também em ducatos.
Além disso, o trabalho das guildas também foi afetado pela ascensão do capitalismo, com as guildas de mercadores tendo cada vez mais proeminência, principalmente em Florença, onde a divisão entre as "guildas maiores" e as "guildas menores" estava diretamente ligada com a acumulação de capital de seus líderes, o que causou uma tensão social no ducado. Os camponeses, por sua vez, não podendo se sustentar somente com o trabalho servil que realizava para o senhor feudal, passaram a montar manufaturas domiciliares. Essas manufaturas eram pequenas oficinas de artesanato, que ofereciam um trabalho mais barato que as guildas de artesãos.
Mesmo assim, geralmente essas manufaturas domiciliares acabavam sendo empregadas por outros magnatas ou burgueses, e assim esses camponeses se tornavam trabalhadores assalariados, mesmo que não fosse em seu trabalho no campo.
O que mais alimentava o comércio entre o Oriente Médio e a Europa era a vinda de "novidades", ou produtos que seriam raros ou inexistentes no ocidente, como tapeçaria persa, seda e especiarias. No entanto, esse comércio ficou sendo controlado cada vez mais por uma classe mercantil que estava em ascensão desde o século XIII. O que facilitou a ascensão dessa classe de mercadores foi, justamente, a geração de letras de câmbio, cheques e armazenamento de bens que foi introduzido pelos Cavaleiros Templários como uma forma primitiva de atividade bancária.
Dessa forma, a classe burguesa começou a ter cada vez mais controle sobre as finanças reais o que, no caso dos templários, levou a eles serem queimados na fogueira. O processo dos templários pela inquisição pode servir como exemplo para demonstrar que o processo de centralização de reinos europeus começou como uma forma de se livrar de dívidas, seja aumentando o controle real sobre seus súditos e expulsando os credores do reino, ou aumentando o controle sobre sua terra, de uma forma que a servidão exigisse cada vez mais dos camponeses, como uma forma do senhor feudal cobrir suas dívidas com a ascendente burguesia. Nesse ínterim, surgiram os movimentos comunais, em que comunidades feudais se reuniam, ocasionalmente com o auxílio da burguesia, e procuravam embates jurídicos pelos seus direitos.
Muitos desses movimentos comunais buscavam se livrar da autoridade do senhor feudal, seja através da compra da terra a qual eles trabalhavam, ou através de justificativas jurídicas. Isso, em si, foi possibilitado pela renovação do direito romano, que ocorreu após a criação das primeiras universidades. Mesmo com esses embates sociais, devido ao Antigo Regime, a ascensão social era algo dificílimo de se ocorrer, e por mais que a burguesia ascendente conseguisse acumular capital, eles nunca iriam ter o mesmo status social da nobreza. Portanto, muitos desses burgueses acabaram se militarizando e se afastando do comércio para buscar a nobreza, como foi o caso de alguns condottiere italianos.
Em outros reinos, isso seguiu o caminho inverso, com uma desmilitarização da nobreza e aburguesamento dela, como ocorreu na Inglaterra após a Guerra das Rosas. Na França, ficou cada vez mais comum os burgueses se aproximarem dos reis e prestarem seus serviços como advogados ou contadores, o que causou o enobrecimento da burguesia e contribuiu para o surgimento da chamada "nobreza de toga", que era mais atrelada a serviços civis do que militares.
No entanto, outros fatores que marcaram a transição para a idade moderna, foram as diversas guerras que ocorreram no século XVI, não só para domínio territorial, mas também domínio de recursos presentes em territórios e, até mesmo de uma forma violenta, deu-se a transição econômica da idade média para a idade moderna.
Na foto,uma xilogravura do século XV ilustrando um banco italiano.
Escrito por - Daniel Pradera
Na página https://www.facebook.com/RepensandoMedievo/
Isso, inclusive, é elucidado na data escolhida para marcar o início da Idade Moderna: 29 de maio de 1453, a queda de Constantinopla, que marcou o monopólio do Império Otomano sobre as rotas comerciais terrestres no Oriente Médio, incentivando as potências europeias a buscarem rotas marítimas para promoverem o comércio com as Índias, o que eventualmente levou à descoberta da América em 12 de outubro de 1492.
Por mais que a idade moderna seja marcada, no aspecto econômico, pelo surgimento do capitalismo, o seu processo de desenvolvimento pode ser visto claramente nos séculos finais da idade média. No entanto, é válido lembrar que o sistema feudal não significa a inexistência de excedentes de produção. Os camponeses trabalhavam na terra do senhor feudal e, após entregar a quantidade de produtos necessários, mantinham o excedente para si. Seria da opção do camponês comercializar os seus excedentes com outras cidades, ou estocá-los.
Por mais que esse ato de compra e venda de excedentes seja característico do sistema capitalista que surgiu na idade moderna, não significa que essa prática seja puramente capitalista. O comércio de excedentes da idade média não tinha como propósito a acumulação de capital, que é o objetivo do sistema capitalista, mas sim o puro acesso aos bens que, como especiarias e tapeçarias que vinham do Oriente Médio, eram um sinal de status. Isso também seria característico no comércio da alta sociedade na idade média, já que com a ascensão do capitalismo, a nobreza feudal europeia se viu cada vez mais pobre e possuindo apenas um único bem verdadeiramente valioso: terras.
Com a ascenção de uma classe burguesa a partir do século XV, a nobreza feudal começou uma tentativa de equiparação em riquezas com essa nova classe social, e por isso começaram a comercializar terras, de onde surgiram os primeiros cercados e, dessa forma, iniciando o conceito atual de propriedade privada. O trabalho assalariado também começou a surgir durante essa transição da economia feudal para a economia capitalista. Os primeiros Estados a empregarem o trabalho assalariado foram o Sacro Império Romano-Germânico, que pagava os mineiradores das minas de prata de Tirol com ducatos, e os mineiradores de alumínio dos Estados Papais, que recebiam seu soldo também em ducatos.
Além disso, o trabalho das guildas também foi afetado pela ascensão do capitalismo, com as guildas de mercadores tendo cada vez mais proeminência, principalmente em Florença, onde a divisão entre as "guildas maiores" e as "guildas menores" estava diretamente ligada com a acumulação de capital de seus líderes, o que causou uma tensão social no ducado. Os camponeses, por sua vez, não podendo se sustentar somente com o trabalho servil que realizava para o senhor feudal, passaram a montar manufaturas domiciliares. Essas manufaturas eram pequenas oficinas de artesanato, que ofereciam um trabalho mais barato que as guildas de artesãos.
Mesmo assim, geralmente essas manufaturas domiciliares acabavam sendo empregadas por outros magnatas ou burgueses, e assim esses camponeses se tornavam trabalhadores assalariados, mesmo que não fosse em seu trabalho no campo.
O que mais alimentava o comércio entre o Oriente Médio e a Europa era a vinda de "novidades", ou produtos que seriam raros ou inexistentes no ocidente, como tapeçaria persa, seda e especiarias. No entanto, esse comércio ficou sendo controlado cada vez mais por uma classe mercantil que estava em ascensão desde o século XIII. O que facilitou a ascensão dessa classe de mercadores foi, justamente, a geração de letras de câmbio, cheques e armazenamento de bens que foi introduzido pelos Cavaleiros Templários como uma forma primitiva de atividade bancária.
Dessa forma, a classe burguesa começou a ter cada vez mais controle sobre as finanças reais o que, no caso dos templários, levou a eles serem queimados na fogueira. O processo dos templários pela inquisição pode servir como exemplo para demonstrar que o processo de centralização de reinos europeus começou como uma forma de se livrar de dívidas, seja aumentando o controle real sobre seus súditos e expulsando os credores do reino, ou aumentando o controle sobre sua terra, de uma forma que a servidão exigisse cada vez mais dos camponeses, como uma forma do senhor feudal cobrir suas dívidas com a ascendente burguesia. Nesse ínterim, surgiram os movimentos comunais, em que comunidades feudais se reuniam, ocasionalmente com o auxílio da burguesia, e procuravam embates jurídicos pelos seus direitos.
Muitos desses movimentos comunais buscavam se livrar da autoridade do senhor feudal, seja através da compra da terra a qual eles trabalhavam, ou através de justificativas jurídicas. Isso, em si, foi possibilitado pela renovação do direito romano, que ocorreu após a criação das primeiras universidades. Mesmo com esses embates sociais, devido ao Antigo Regime, a ascensão social era algo dificílimo de se ocorrer, e por mais que a burguesia ascendente conseguisse acumular capital, eles nunca iriam ter o mesmo status social da nobreza. Portanto, muitos desses burgueses acabaram se militarizando e se afastando do comércio para buscar a nobreza, como foi o caso de alguns condottiere italianos.
Em outros reinos, isso seguiu o caminho inverso, com uma desmilitarização da nobreza e aburguesamento dela, como ocorreu na Inglaterra após a Guerra das Rosas. Na França, ficou cada vez mais comum os burgueses se aproximarem dos reis e prestarem seus serviços como advogados ou contadores, o que causou o enobrecimento da burguesia e contribuiu para o surgimento da chamada "nobreza de toga", que era mais atrelada a serviços civis do que militares.
No entanto, outros fatores que marcaram a transição para a idade moderna, foram as diversas guerras que ocorreram no século XVI, não só para domínio territorial, mas também domínio de recursos presentes em territórios e, até mesmo de uma forma violenta, deu-se a transição econômica da idade média para a idade moderna.
Na foto,uma xilogravura do século XV ilustrando um banco italiano.
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