Uma entrevista com o Dr. Rodney
Stark, sociólogo e autor do livro “Tolerando falsas testemunhas (Bearing False Witness)”.
Dr. Rodney Stark escreveu cerca de 40 livros sobre
variados temas, entre estes, alguns sobre a história do Cristianismo, do
monoteísmo, do Cristianismo na China e as raízes da modernidade. Depois de
iniciar como jornalista e passar algum tempo no Exército, Stark recebeu seu
Ph.D. na Universidade da Califórnia, Berkeley, onde ocupou cargos como
sociólogo e pesquisador no Departamento de Pesquisa no Centro de Estudos de
Direito e Sociedade.
Mais tarde foi Professor de Sociologia e de Religião
Comparada na Universidade de Washington.
Atualmente, ele está na Universidade de Baylor, onde
ensina desde 2004. Stark é ex-presidente da Sociedade para o Estudo Científico
da Religião e da Associação para a Sociologia da Religião, e ganhou vários
prêmios nacionais e internacionais por distinta bolsa de estudos. Criado como
um luterano, ele se identificou como um agnóstico, mas, mais recentemente,
chamou a si mesmo de “cristão independente”.
Seu livro mais recente é Tolerando falsas testemunhas:
Contradizendo séculos de história anti-católica — Bearing False Witness:
Debunking Centuries of Anti-Catholic History — (Templeton Press, 2016),
que aborda os dez maiores mitos sobre a história da Igreja Católica. Dr. Stark
recentemente respondeu, por e-mail, algumas perguntas de Carl E. Olson, editor
do site Catholic World Report.
Carl: Em primeiro lugar, você inicia o livro
ressaltando a sua educação como protestante americano e, em seguida, examinando
o “fanático ilustre”. O que é um “fanático ilustre”? E como
essas pessoas influenciaram o modo como a Igreja Católica é compreendida e
percebida por muitos americanos hoje?
Dr. Rodney Stark: Ao distinguir o fanático, falo
proeminentemente dos acadêmicos e intelectuais que claramente são antagônicos à
Igreja Católica lançando falsas sentenças e afirmações históricas que são
falsas.
Carl: Como você identificou e selecionou os dez
mitos anticatólicos que você refuta em seu livro? Até que ponto esses mitos
fazem parte de uma cultura protestante em geral (embora às vezes vaga), e até
que ponto eles são encorajados e difundidos por uma elite cultural mais
secular?
Dr. Stark: Na maior parte dos casos, encontrei
esses mitos anticatólicos quando escrevi sobre vários períodos e acontecimentos
históricos e descobri que esses conhecidos “fatos” eram falsos e, portanto, eu
era forçado a lidar com eles nesses estudos. Esses mitos não se limitam a uma
cultura protestante generalizada — muitos católicos, inclusive alguns bem
conhecidos, também os repetiram. Esses mitos têm sido muitas vezes, e por muito
tempo, tidos admitidos como verídicos e verdadeiros por historiadores em geral.
É claro que os secularistas — especialmente ex-católicos como Karen
Armstrong — adoram esses mitos.
Carl: O primeiro capítulo é sobre “os filhos do
antissemitismo”. Talvez o mais decisivo e controverso dos tópicos que você
aponta. Como seu ponto de vista sobre esses assuntos mudaram e por quê? Por que
você acha que continua a existir uma ampla convicção ou impressão de que a
Igreja Católica é intrinsecamente antissemita?
Dr. Stark: Quando comecei como estudioso,
“todos”, incluindo os principais católicos, tinham que a Igreja era a principal
fonte de antissemitismo. Foi só mais tarde, quando trabalhei com documentos
medievais sobre judeus, que descobri o papel efetivo da Igreja em opor-se e reprimir
tais ataques — essa verdade é contada pelos cronistas judeus medievais e,
portanto, certamente verdadeira. Por que tantos “intelectuais”, muitos deles
ex-católicos, continuam a aceitar a noção de que o Papa Pio XII era “o Papa de
Hitler”, quando isso é tão obviamente uma mentira viciosa? Só pode ser ódio à
Igreja. Tenha em mente que são principalmente os judeus que defendem o Papa
[Pio XII].
Carl: Por que vários historiadores, como
Gibbons, apresentaram os antigos pagãos como benevolentes ou, na maioria,
tolerantes com o cristianismo? Qual foi a relação real entre o cristianismo e o
paganismo nos primeiros séculos da existência da Igreja?
Dr. Stark: Naqueles dias, a maneira segura de
atacar a religião era deixar os leitores assumirem que era apenas um ataque ao
catolicismo, de modo que foi o que Gibbon e seus contemporâneos fizeram. Talvez
surpreendentemente, uma vez que os pagãos já não eram capazes de perseguir os
cristãos, eles foram praticamente ignorados pela Igreja e pelos imperadores e
apenas desapareceram lentamente.
Carl: Como se desenvolveu a mito da “Idade das
Trevas”? Quais são alguns dos principais problemas com esse mito?
Dr. Stark: Voltaire e seus associados fizeram a
ficção da Idade das Trevas para que pudessem alegar ter superado-os com o
Iluminismo. Como todos os historiadores competentes (e até mesmo as
enciclopédias) reconhecem agora, que não houve Idade das Trevas. Ao contrário,
foram nesses séculos que a Europa deu o grande salto cultural e tecnológico que
acolocou tão à frente do resto do mundo.
Carl: Que relação existe entre o mito da “Idade
das Trevas” e o mito do “Iluminismo secular”? Quão racional e científico, de
fato, foi o Iluminismo?
Dr. Stark: Os “filósofos” do chamado
“Iluminismo” não desempenharam qualquer papel na ascensão da ciência — o grande
progresso científico da época foi alcançado por homens altamente religiosos,
muitos deles clérigos católicos.
Carl: As Cruzadas e as Inquisições continuam
sendo apresentadas como épocas e eventos que envolveram a barbárie cristã e o
assassinato de milhões. Por que esses mitos são tão populares e difundidos,
especialmente depois que os estudiosos passaram décadas corrigindo e
esclarecendo o que realmente aconteceu (ou não)?
Dr. Stark: Sou competente para revelar que as Cruzadas eram
legítimas guerras defensivas e que a Inquisição não era sangrenta. Não sou
competente para explicar por que uma pilha de pesquisas finas que apóiam essas
correções não teve impacto nos
cursos desses tagarelas. Suspeito que esses mitos sejam preciosos
demais para os anti-religiosos se renderem.
Carl: Ao abordar a “Modernidade Protestante”,
você afirmou categoricamente que a tese de Max Weber de que com o
Protestantismo nasceu o capitalismo e a modernidade é “absurda” [nonsense].
Quais são os principais problemas com a tese de Weber?
Dr. Stark: O problema é que o capitalismo
simplesmente foi desenvolvido e cresceu na Europa muitos séculos antes da
Reforma.
Carl: Você afirma enfaticamente que, como um
estudioso com um fundo protestante trabalhando em uma universidade Batista,
você não escreveu seu livro como “uma defesa da Igreja”, mas “em defesa da
história”. Por que isso é significativo? E, finalmente, você acha que a maioria
dos americanos realmente dá mais crédito à história do que à Igreja?
Dr. Stark: Eu acho que os ilustres fanáticos
terão dificuldade em me acusar de ser um católico, tentando encobrir os pecados
da Igreja. O único machado que tenho a moer é que a história deve ser
honestamente relatada. Quanto ao seu ponto final: Eu não acho que “a maioria
dos americanos” jamais saberá que este livro foi escrito. Só posso esperar que
influencie intelectuais e escritores de livros didáticos — talvez.
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