Resumo: Este artigo apresenta a formação da Guarda Negra por um grupo de negros que praticavam a capoeira e agiam com violência para com o Partido Republicano na cidade do Rio de Janeiro entre 1888 e 1890. O objetivo do grupo era apoiar a Monarquia e impedir a República no Brasil.
Introdução
A escravidão deixou sua marca na sociedade brasileira cuja exportação de matéria prima foi desenvolvida mediante trabalho escravo nas lavouras de cana de açúcar, de café e na extração de minerais. O trafico negreiro foi responsável pela introdução de grande números de africanos num comércio de seres humanos entre Brasil, Portugal e África entre os séculos XVI e XIX.
A expansão das lavouras de café na região sudeste foi responsável pelo deslocamento de negros escravos através do tráfico entre províncias, do nordeste para o sul. Esse movimento do escravo foi criticado por políticos do império pela alta concentração escrava que causariam rebeliões e fugas de escravos na região sudeste.
O medo de uma grande rebelião escrava foi comentado pela historiadora Célia Marinho de Azevedo (1987) que concluiu em sua obra “Onda Negra, medo Branco” que a pressão política para o fim da escravidão estava relacionada ao receio de uma revolta de negros semelhante aos embates entre escravos e brancos no Haiti.
Esse fato gerou o aumento das alforrias seja pelo medo dos negros ou pela falsa benevolência de alguns senhores de escravos, que queriam investir capital no trabalho assalariado e na mão de obra imigrante.
Para os negros livres o sonho de liberdade e a busca melhores condições de vida os motivaram a buscarem trabalho assalariado longe do meio rural. Isso atraiu grande número de ex-escravos e libertos para a sede do império – a corte no Rio de janeiro que se concentraram em cortiços miseráveis e casebres na área portuária ou terrenos desabitados na periferia da cidade.
No meio urbano, os negros que permaneciam escravos prestavam serviços nas casas de veraneio dos “barões do Café”, como escravos domésticos ou alugados (de ganho) para outros senhores. Muitos desses escravos adquiriram sua liberdade ao pagar pelas alforrias com a prestação de serviços aos comerciantes, principalmente na Corte do Rio de Janeiro.
Logo esta e regiões da cidade receberiam um contingente enorme de negros de diferentes etnias e com diversas profissões como marceneiros, ferreiros, carpinteiros, sapateiros e comerciantes.
Na corte e nos arredores da cidade, muitos desses ex-escravos não encontravam moradia fixa ou acolhida pela população local. Somente as irmandades de negros como os de Nossa senhora do Rosário, de Santa Efigênia e de São Benedito prestavam assistência aos ex-escravos que se instalaram na região próxima suas igrejas. Outros negros que não tiveram a mesma sorte se envolviam na mendicância e na violência ao escolher grupos, ao qual se identificavam conforme origem étnica e cultural de cada grupo.
A população urbana vivia em constante apreensão com estes grupos que adentravam a corte e se integravam as maltas de capoeiras.
A origem das Maltas de capoeiras no Rio de Janeiro
O historiador Carlos Eugênio Líbano Soares (1994) estudou as maltas de capoeiras desde a colônia e concluiu que os grupos de mestiços livres (nacionais) e escravos africanos se dividiam entre Guayamus (composto por mestiços, pardos e brancos pobres) e Nagóas (composto por negros escravos e alforriados) na cidade do Rio de Janeiro entre 1850 -1890.
Os Nagóas integravam os africanos que vieram da Costa dos Escravos (região nordeste da África) e outros que se deslocavam para região sudeste através do tráfico interprovincial. Já os Guayamus viviam na região portuária da cidade a muitos anos.
Estes grupos se confrontaram entre si nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, durante o período de crise na sociedade escravista, ou seja, entre os anos de 1850 com o fim do tráfico negreiro até o advento da República em 1889.
Essa crise surgiu diante do dilema de libertar os escravos ou prorrogar o regime escravista por alguns anos. Os conflitos ideológicos e a disputa entre os partidos sobre a emancipação escrava gerou o aliciamento de maltas de capoeiras. O recrutamento era feito, de acordo com os interesses políticos da região a qual pertenciam os negros e mestiços na cidade do Rio de Janeiro.
Um dos conflitos foi o crescimento do interesse político de grupos antagônicos pelo controle das principais regiões da cidade. Isso instigou a brutalidade e as brigas entre as maltas e a policia carioca.
A violência das maltas foi apoiado por grupos ou membros dos partidos Conservador ou Liberal, que se utilizaram das mesmas como milícias armadas, para assassinar inimigos pessoais e desafetos políticos.
Os Nagóas eram protegidos por membros do partido conservador , que recrutavam estes bandos para invadir residências, lojas comerciais ou jornais abolicionistas Já os Guayamus eram apoiados pelos liberais e depois escolhidos como guardas costas de políticos, contra as ameaças de membros do Partido Conservador.
Para ilustrar este domínio, na década de 1870, Soares (1994, p.80) comentou que o controle das ruas do Rio de Janeiro era dividido entre as milícias de capoeiras que repartiam entre si o domínio das zonas urbanas e rurais, conforme o domicilio e o local de trabalho de negros, escravos de ganho e libertos. Essas milícias recebiam libertos que atuaram na Guerra do Paraguai e retornaram em 1870 com patentes do exército, mas sem prestigio social.
Relatos de documentos da época apontavam para a concentração de grupos que lutavam capoeiras na área de Mata Atlântica e morros da zona portuária pertenciam ao grupo Nagóa.
Enquanto que os Guayamus se concentravam nas áreas residências e no centro da Corte Imperial.
Os Guayamus eram mestiços e brancos, de origem portuguesa, que executavam serviços diversos no comércio e nas casas da elite urbana.
As maltas do grupo Nagóa habitavam em áreas de chácaras e grandes sítios que ocupavam a parte rural da cidade do Rio de janeiro, pois eram em sua maioria escravos ou prestavam serviços como negros de ganho no centro.
Seu domínio se estendia da região do Glória até os limites do Campo do Santana e os membros eram divididos pelos bairros e freguesias conforme o local em que residiam. Por exemplo, a malta “Cadeira da senhora” controlavam a região do Santana e o “Flor da gente” exerciam seu domínio sobre a freguesia do Glória.
Os Guayamus tinham seu território restrito, ao centro comercial, periferia e portos perto da orla marítima, como o Morro da Providencia e do São Bento. Seu limite natural ia do Largo do Rocio (atual Praça Tiradentes) até uma parte do Campo do Santana.
As maltas “Três cachos” da freguesia de Santa Rita e “Franciscanos”, da freguesia de São Francisco de Paula eram as mais conhecidas dessa região, por pertencerem ao grupo Guayamu.
O poder destas maltas, graças ao apoio de partidos políticos, cresceu em importância perante a imprensa carioca. Pois esses passaram a escrever em seus periódicos os distúrbios provocados pelos capoeiristas, a violência e a rivalidade entre os grupos.
Segundo a imprensa, os Guayamus e os Nagóas pretendiam dominar todo o meio urbano carioca, com a conivência da elite política da corte.
Para coibir a ação das maltas, a delegacia da Freguesia do Glória incorporavam capoeiras como integrantes da força policial, com o objetivo de controlar a região.
Com essa atitude por parte da policia carioca, os crimes das maltas foram destaque nos jornais do Rio de Janeiro, cuja responsabilidade atribuíram aos negros ou brancos, de descendência portuguesa, a pratica da violência associada a capoeira. Também foram responsáveis pelo aumento da criminalidade urbana.
O grande destaque nos jornais Gazeta da Tarde e Diário de Noticias foram a descrição das ações de maltas que se envolviam em lutas com navalhas e nos assassinatos de membros dos grupos rivais.
Essa rivalidade entre Nagóas e Guayamus tornou a ação policial ineficaz em tentar controlar as maltas e impedir estes os assassinatos. Os registros criminais do período apontam para a prisão de inúmeros negros, pardos e brancos, pela pratica da capoeira em festas e comemorações religiosas.
As diligencias policiais apreendiam negros bêbados que portavam navalhas, mas não conseguiam evitar os assassinatos nas ruas.
No entanto, os negros mais violentos eram libertados alguns dias depois, graças a ação judicial impetrada por algum senhor de posses, que devia favores as milícias da região ou donos dos escravos, que integrava as maltas.
Ou seja, as ações criminosas dos capoeiras não eram passiveis de punição,devido ao interesse de grupos econômicos ou políticos, que lucravam com a violência das maltas nas ruas.
Com o fim da escravidão em 1888, as maltas mudaram suas relações com os partidos políticos, pela introdução de membros do Partido Liberal ao inexpressivo Partido Republicano, fundado em 1870.
O crescimento do republicanismo foi possível, graças à adesão alguns liberais e conservadores descontentes com a Monarquia, após a abolição.
A abolição da Escravidão e as ideias de José do Patrocínio
Com a abolição, os grupos de capoeiras se dividiram em milícias, de acordo com os interesses políticos recebido de ambos os partidos – conservador ou liberal.
Membros da Confederação Abolicionista como José do Patrocínio tentaram apaziguar as tensões entre os grupos sociais, ao publicar artigos exaltando as qualidades dos ex-cativos.
Sua meta era inserir no imaginário popular as virtudes que negros poderiam adquirir como cidadão após sua emancipação .
Para a Confederação e José do patrocínio era necessário mudar a mentalidade da população carioca que associavam os ex-escravos as maltas de capoeiras e a violência urbana.
Era importante que a sociedade carioca acreditasse que o negro criminoso era vitima da ignorância, ligada a séculos de cativeiro. E que a correção de sua índole violenta seria feita pela educação e pelo monitoramento de suas ações individuais e coletivas.
Tudo isso visando o apaziguamento das tensões sociais entre ex-escravos e elite urbana.
Patrocínio pensava, que assim , os negros seriam integrados a sociedade escravista. Suas ideias foram publicadas em seu jornal ”Cidade do Rio”, entre o ano de 1887 até o advento da República em 1889.
Para ele, a integração do negro passava pela proteção das instituições políticas, ao apoiar o Império no terceiro reinado, cuja proposta final era o de educar os ex-escravos para o trabalho assalariado tanto nas fazendas, quanto no meio urbano.
As milicias urbanas e a Guarda Negra
O fortalecimento do Partido Republicano levou o gabinete de João Alfredo de Oliveira (Partido Conservador) dar apoio direto as maltas de capoeiras da região da Lapa e Santana que formaria a temida Guarda Negra.
Ela foi reunida por José do Patrocínio, em 25 de setembro de 1888, na redação do jornal Cidade do Rio, como um grupo de proteção a Monarquia, diante dos exaltados discursos de republicanos, nos comícios ao redor da cidade..
As milícias ou maltas de capoeiras do grupo Nagoa da região do Santana e do largo da Lapa foi nomeada Guarda Negra pela imprensa carioca, ao relatar a onda de violência nos comícios republicanos promovidos por Silva Jardim. Estes locais eram controlados politicamente pelo Partido Conservador.
No entanto, a formação da Guarda Negra foi posterior as rivalidades entre Guayamus e Nagóas diante do fim escravidão. Parte do grupo Guayamus e a maioria dos membros dos Nagóas se reuniram em torno do Partido Conservador por sua gratidão a Princesa Isabel e o gabinete João Alfredo.
Dessa união surgiu a Guarda Negra da Redentora. Era o inicio de uma campanha para dar aos ex-escravos educação e alfabetização, para se adaptarem a liberdade e se integrarem a sociedade.
A integração seria pelo trabalho no comércio urbano ou nas áreas rurais como assalariados, seguindo as orientações da Confederação Abolicionista.
Só que Patrocínio não pensava que essa inclusão deveria incorporar as impressões de ódio e rancor dos negros para com seu meio social. Pois os ex-cativos tiveram contato com esta sociedade em cotidiano, quando ainda eram escravos.
Os negros que integravam as maltas já viviam no meio urbano seja como livres ou escravos. Também tiveram contato com o meio político através dos interesses mútuos entre as maltas e os Partidos.
Para eles, a abolição significava criar um partido político para eliminaria à discriminação dos brancos e promoveria o acesso a terra para os negros. Mesmo com a perspectiva de transformações com a Lei Áurea, a condição social ou econômica do negro não mudou com a abolição.
Seu status como cidadão foi permitido através do controle político e ideológico dos partidos no período de transição entre Monarquia e República.
As versões de historiadores sobre a origem da Guarda Negra
Houve várias versões sobre a formação de milícias negras no Rio de Janeiro e em outras províncias como Maranhão, Amazonas e Bahia.
Também as fontes apontam para o envolvimento de conservadores como Ferreira Viana, João Alfredo e de abolicionistas como Patrocínio e Emile Rouéde com grupos de capoeiras.
Na formação da Guarda Negra, pós abolição, há relatos de dois grupos criados ou reunidos por abolicionistas e membros do Partido Conservador.
O primeiro foi reunido por Emile Rouéde em julho de 1888 na casa de amigos em que convidou os negros libertos do 13 de maio para criar uma associação que representasse a submissão dos mesmos a sociedade branca.
O segundo foi à milícia de brancos e negros alforriados reunidos pelo gabinete de João Alfredo, que repetia a forma empregada pelo Partido Conservador, contra os inimigos políticos do regime monárquico.
O grupo deveria agir de forma clandestina, para que espalhasse o medo entre os adversários e permitir ao Partido Conservador incorporar a camada popular mais pobre a sua tutela.
A primeira versão dada sobre a origem do grupo foi narrada por Orico, biográfo de José Patrocínio.
A Guarda Negra, para Orico (1977), foi constituída a partir um grupo de negros, apoiados por monarquistas, que se reuniram para formar uma irmandade negra, a Sociedade Recreativa Habitante da Lua, na região de Santana – reduto dos Nagôas.
Essa irmandade era formada por negros alforriados e, posteriormente, passou a aceitar negros libertos pela Lei Áurea.
Os dados mais precisos sobre essa irmandade sugerem que o grupo dos nagoas foram os elementos que formaram a Guarda Negra, por terem no passado apoiado o Partido Conservador.
Essa irmandade jurava defender a Monarquia e obedecia a compromissos solenes e rituais de devoção a Isabel, com sessões secretas e juramentos sagrados, baseado na Bíblia. A violação do segredo dessa irmandade levava à expulsão ou à morte dos culpados.
A irmandade esperava o advento do terceiro reinado e deveria reagir a qualquer ameaça pessoal à Princesa Isabel.
O culto a princesa Isabel ou o Isabelismo motivou o grupo a agregar novos adeptos, quando a irmandade mudou de nome para Sociedade Beneficente Isabel , a Redentora, cujos dados sobre a origem do grupo e seus membros ainda estão ocultos.
Segundo Magalhães Junior (1976) a formação da primeira versão da Guarda Negra foi iniciativa não de José do Patrocínio, mas de Manuel Maria Beaurepaire Pinto Peixoto, abolicionista e monarquista.
Em sua obra sobre essas milicias negras, Magalhães Júnior explicava que os republicanos ficaram indignados pelo aliciamento de homens de cor (negros), para engrossar as hostes monarquistas e insinuava que a Guarda Negra estava ligada ao ministro da Justiça Ferreira Viana, com total apoio de João Alfredo.
Para Maria Lúcia Rangel Ricci (1990) os idealizadores da Guarda Negra foram os abolicionistas mais exaltados, como José do Patrocínio, que queriam combater a influência do Partido Republicano, perante a população do Rio de Janeiro.
Patrocínio queria que a ideologia de proteção à Redentora Isabel, construída por esse grupo, se estendesse para as demais províncias do Império.
A Guarda Negra, segundo Robert Daibert Júnior (2004), foi uma milícia política com ares religiosos. Seus membros comportavam-se como arruaceiros e tinham como principal foco de ação desestabilizar as conferências republicanas.
Os republicanos consideravam os membros da Guarda Negra um bando de marginais liderados por negros ressentidos com sua inferioridade na sociedade carioca.
Augusto Mattos (2009) aponta que a Guarda Negra teve sua formação iniciada na casa do abolicionista e monarquista Emilio Rouedé, em 10 de julho de 1888, com o total apoio de José de Patrocínio, que se intitulou o criador e mentor do grupo.
Segundo Mattos, nos estatutos sobre o grupo, publicados no Cidade do Rio, os negros escolhiam os membros de uma diretoria que autorizava admissão de novos integrantes.
Mattos (2009) ainda descreve os integrantes da Guarda Negra como negros alfabetizados, que tinham a missão de agregar outros ex-escravos para o grupo, sobre a proteção dos abolicionistas.
Seus associados consideraram a data de 13 de maio como um marco da libertação dos cativos no Brasil e juraram defender a pessoa que promoveu a extinção da escravidão, a Princesa Isabel.
Os estatutos da Guarda Negra ordenavam que os negros só trabalhassem em fazendas cujos proprietários não fossem hostis a Isabel e apoiassem o terceiro reinado.
Patrocínio solicitou o apoio da Confederação Abolicionista à Guarda Negra, para que suas idéias fossem divulgadas nas demais províncias do Brasil. Queria também o apoio da imprensa.
No entanto, os republicanos não aceitaram a formação de milícia armadas apoiadas por abolicionistas e o Isabelismo de Patrocínio. Em seus jornais como Província de São Paulo, Gazeta da Tarde e O Paiz criticaram a postura da Confederação Abolicionista, de aceitar semelhante ideia e apoiar o fanatismo de Patrocínio.
As criticas da imprensa carioca á Guarda Negra
Os discursos de repúdio à Guarda Negra pelos republicanos defendiam a ideia de que uma nova nação necessitava de ter povo civilizado e moderno.
Essas idéias estavam embutidas nas propagandas republicanas e nos discursos de Silva Jardim que defendiam que a modernização da cidade do Rio de Janeiro era incompatível com a presença de libertos circulando entre os membros da elite branca.
Esses discursos racistas eram aplaudidos pelos brancos e rejeitados pelos negros.
O partido republicano não teve a adesão ou o apoio das maltas de capoeiras por causa de sua ideologia escravista e racista. Os membros do partido, compostos por fazendeiros escravistas e positivistas não admitiam ter qualquer ligação com mulatos ou mestiços.
Com exceção da ala progressista do Partido Republicano de São Paulo, que tinha como membro Quintino Bocaiuva, que apoiou alguns escritores abolicionistas como Luis da Gama, Ferreira de Meneses e José do Patrocínio.
Por outro lado, os monarquistas e os membros do Partido Conservador se defenderam das criticas republicanas associar as ações do grupo a postura de benevolência dos negros, para com futura imperatriz do Brasil.
Para os conservadores, os integrantes da Guarda Negra eram negros agradecidos pelo ato da Princesa Isabel no dia 13 de Maio. Do cativeiro, a Guarda Negra surgiu como um apoio à Monarquia, que lhes inspirava lealdade e gratidão.
Em seu discurso sobre o tema , Patrocínio disse que neste dia os negros deixavam de ser coisas, para começarem a ser homens, algo que as instituições não poderiam negar com base nas leis vinculadas aos princípios de liberdade, Igualdade e Fraternidade, com base no amor e na gratidão, conforme artigo publicado no jornal Cidade do Rio em 05 de janeiro de 1889.
Patrocínio acrescentou em seu artigo em 16 de janeiro de 1889, que os republicanos de 14 de maio estavam deveras incomodados com a existência da Guarda Negra.
Para impopularizar essa corporação, que é um partido político, tão legitimo como qualquer outro, dizem os pseudo democratas, que ela tem por fim armar os negros contra os brancos.
Alguns meses após a publicação desse artigo Clarindo de Almeida, chefe do grupo, concedeu uma entrevista ao jornal Gazeta de Noticias, onde dizia qual era sua proposta e do grupo. Ele comentava que os cidadãos negros eram patriotas gratos à Monarquia e à Princesa Isabel pela liberdade.
Criticou a violência sofrida pelos negros e que era atribuída ao Partido Republicano. Finalizava dizendo que a Guarda Negra não era responsável pela anarquia nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, denunciando a cumplicidade entre os republicanos do quatorze de maio e a maltas nos atentados às manifestações pacificas a favor da Monarquia.
Para reforçar as palavras de Clarindo de Almeida, Patrocínio escreveu um artigo de protesto contra o redator do Diário de Noticias, Rui Barbosa, ao dizer que a primitiva Guarda Negra era composta de homens livres, trabalhadores dignos de respeito, pelo elevado sentimento que os congregava entre si e a sociedade que os estavam acolhendo.
Os republicanos e a Guarda Negra
O político Rui Barbosa foi o principal crítico da formação da Guarda Negra e do envolvimento de José do Patrocínio com esse grupo. Ele não concordava com a atuação de uma milícia composta por ex-escravos liderados por negros abolicionistas, pois acreditavam que os negros não precisavam de tutores para ser inseridos na sociedade carioca, como cidadãos.
Para os republicanos como Rui Barbosa, a Guarda Negra foi organizada pelo governo imperial para combater os opositores do regime monárquico. Os propósitos do grupo, segundo os republicanos, eram provocar atritos que levariam a um confronto dos negros com a sociedade branca.
No jornal Diário de Noticias, Rui Barbosa descrevia a Guarda Negra como um grupo de negros, de caráter não oficial, criado para defender o gabinete João Alfredo e fortalecer a imagem de Isabel perante a população carioca.
Em 09 de maio de 1889, em nota no Diário de Noticias, Rui Barbosa apontou Sampaio Vianna como presidente da Guarda Negra e dizia que os demais membros eram os negros chamados Hygino, Manoel Antônio, Jason, Aprígio, Gaspar e Theócrito.
As criticas de Barbosa apresentava contradições já que suas ações políticas também apresentam as marcas de um paternalismo excludente ao propor medidas de educação para os negros.
Essas medidas incluíam a criação de fazendas agrícolas para alfabetização e ensino de profissões manuais para os ex-escravos.
O projeto educativo de Barbosa visava o confinamento de negros no interior para evitar o contato com a elite branca do meio urbano e os imigrantes que adentravam as capitais do Império – Rio de Janeiro e São Paulo.
O projeto diminuiria o número de ex-escravos nas cidades, já que a elite escravocrata tinha receio de revoltas e do aumento da violência, pela grande concentração de negros nestes locais.
O temor era oriundo da convivência cotidiana com as maltas e as ações violentas da policia, em repressão a estes grupos.
Patrocínio defendia a Guarda Negra, afirmando que o grupo combatia a influência republicana, de forma pacifica, mas que se fosse necessário, faria uma barreira de proteção à Regente, aparando todas as ofensas e ameaças contra ela.
Por isso, a estratégia de associar as maltas de capoeiras à Guarda Negra foi uma forma de resistência a qualquer movimento contra a Monarquia, recorrendo a extremos, como a violência, para isso.
O grupo tinha uma ideologia, construída pelos monarquistas, de defesa do terceiro reinado, pois temiam a vitória republicana, devido à doença do Imperador D.Pedro II. Os monarquistas e os republicanos percebiam o despreparo de Isabel nas questões políticas e temiam o fim da Monarquia.
Em resposta ao Partido Republicano, Patrocínio argumentou que o objetivo da Guarda Negra, na sua formação inicial, era defender a vida da Princesa Isabel, por causa dos discursos reacionários de Silva Jardim, membro do partido, que pretendiam eliminar a família imperial e implantar a República, da mesma maneira que a Revolução Francesa.
Segundo Uelington F. Alves (2009), mesmo formado nos princípios republicanos, mas por gratidão à Monarquia, José do Patrocínio queria impedir a ascensão republicana. Isso o levou a aparecer, no jornal Cidade do Rio, como divulgador do grupo Guarda Negra, e não como o criador.
As ações violentas da Guarda Negra
No entanto, a adesão cada vez maior à causa da Redentora pelos negros suscitava um novo temor da elite e da imprensa: uma milícia negra nas ruas do Rio de Janeiro.
Esse temor foi materializado no final do ano de 1888, quando a insegurança se instalou na Corte Imperial e os negros foram hostilizados por parte da população carioca.
A polícia tentava coibir os atentados aos negros e aos republicanos, nos comícios nas ruas do Rio de Janeiro. Patrocínio apontou, no Cidade do Rio, que as agressões à população negra eram estimuladas pelos fazendeiros escravistas.
A imprensa republicana criticava a Guarda Negra e acusava Patrocínio tornando-o co-responsável pelos seus altos níveis de violência do grupo. Em 30 de dezembro de 1888, numa conferência de Silva Jardim, um grupo de capoeiras invadiu o local e provocou baderna.
A invasão teve como conseqüência pessoas feridas e mortas devido ao conflito entre republicanos e monarquistas. Um dos participantes era o chefe da malta José Antônio dos Santos, do grupo Nagóa e residente na rua da Saúde, na região do Campo do Santana.
Os republicanos reagiram a tiros para evitar mais destruição e proteger suas vidas. A imprensa, ao saber do fato, passou a criticar a polícia por ter permitido essa invasão e ser conivente com os atos violentos dos negros.
Ao comentar os acontecimentos do comício, Patrocínio, no Cidade do Rio, dizia que lamentava escrever sobre os feridos e a destruição por negros violentos a mando dos neo-republicanos, no local em que ocorria uma conferência republicana.
Patrocínio dizia que a Guarda Negra não foi o grupo responsável por aquela violência, mas capoeiras e criminosos que percorriam as ruas da cidade armados de navalhas.
Afirmação desmentida pelos registros da casa de detenção que apontou José Antônio dos Santos como líder da principal malta, que integrava a Guarda Negra naquele dia.
De acordo com nota publicada no jornal Cidade do Rio, em 31 de dezembro de 1888, Clarindo de Almeida ignorava as criticas da imprensa e acusava os negros republicanos de promoverem atentados contra a Guarda Negra.
Almeida declarava ainda que o grupo não queria perturbar a ordem estabelecida nas ruas do Rio de Janeiro e apontava as maltas a serviço do Partido Conservador, como responsáveis pelos distúrbios.
Almeida dizia, ainda, que não era do interesse da Guarda Negra provocar a anarquia na sociedade carioca, mas prometeu que continuaria a combater a instituição representada pelos escravistas - Partido Republicano - pelos trezentos anos de escravidão.
No Diário de Noticias, Rui Barbosa, ao comentar sobre a violência no comício de dezembro de 1888, dizia que a Guarda Negra era a conseqüência de todos os séculos de cativeiro, a que foram submetidos os negros.
O estimulo à violência era culpa da Princesa Isabel, que havia libertado o negro como um ato humanitário, mas não podia prever as conseqüências que a Abolição traria para a sociedade carioca.
Em resposta às ações de violência da Guarda Negra, a imprensa paulista divulgou uma nota em os negros da cidade de Casa Branca, na província de São Paulo, lamentavam que seus irmãos de cor se envolvessem em atos violentos em nome da Monarquia.
Em nota publicada na Cidade do Rio, de 16 de janeiro de 1889, os anúncios de violência da Guarda Negra chegaram às associações e irmandades de negros na província de São Paulo. Eles se reuniram na cidade de Santos para protestar contra a Monarquia e apoiar a propaganda republicana.
Repudiavam o Isabelismo, ao mesmo tempo em que lamentavam a participação de Patrocínio na Guarda Negra.
Em 02 de fevereiro de 1889, os negros da Casa Branca se pronunciavam sobre a exploração dos negros e a perseguição ao Partido Republicano feito pela Guarda Negra, no Rio de Janeiro.
Nesse artigo publicado pelo jornal Gazeta Nacional em 02 de fevereiro de 1889, são claras as posições dos negros paulistas de condenação às ações violentas da Guarda Negra.
Eles apontavam que esse grupo não tinha o direito de perturbar a ordem e impedir a livre manifestação da opinião dos negros em relação à sua filiação partidária.
Também reforçavam que a libertação dos cativos foi um processo apoiado pela população brasileira, e não um ato exclusivo do trono.
Eles não tinham tal lealdade à Monarquia, mas sim aos abolicionistas e em sua ação de libertá-los do cativeiro, na província de São Paulo.
Nas palavras dos negros da cidade de Casa Branca percebe-se que esses grupos não aprovavam o culto à Princesa Isabel perante os ex-escravos. Nem todos os negros eram a favor da criação de uma milícia contra os brancos ou partidos políticos, em nome da Monarquia.
Em Campinas, província de São Paulo, os libertos fizeram um pronunciamento, publicado pelo jornal O Paiz em 05 de março de 1889, onde em assembléia se reuniram todos que não concordaram com a formação da Guarda Negra para defender a Princesa Isabel.
Declaram que não eram obrigados a defenderem o trono da Princesa Isabel, a quem devotaram respeito igual que contribuíram tanto os nacionais quanto os estrangeiros, na luta abolicionista.
Eles aproveitaram a ocasião para protestar contra o recrutamento de negros para compor a milícia que assassinavam ou feriam os antigos escravos. No final afirmavam que eram brasileiros saídos do cativeiro e que passaram a viver como homens livres.
Na província do Rio de janeiro, os simpatizantes da Guarda Negra ficaram decepcionados com seus atos violentos nos comícios republicanos. Os abolicionistas, como André Rebouças, foi um dos que reprovaram a postura de Patrocínio em criar o grupo e permitir que o mesmo se entregasse a um fanatismo que geraria mais violência e crítica dos republicanos aos monarquistas.
A observação de Rebouças foi com base nos distúrbios que agravaram as rixas entre os republicanos e a Guarda Negra nas ruas da cidade do Rio de Janeiro.
Os jornais republicanos, diante desses distúrbios, apontaram a Guarda Negra como responsável direta por atos violentos contra o Partido Republicano. O Paiz e o Diário de Noticias publicaram artigos em que criticavam essa violência e acusavam o gabinete João Alfredo de permitir que a Guarda Negra continuasse a perturbar os comícios republicanos na capital do Rio de Janeiro.
O governo imperial foi acusado de incapaz de controlar a milícia, que supostamente, protegia a Princesa Isabel dos males republicanos.
Para Rui Barbosa e Silva Jardim, a Guarda Negra foi instrumento de repressão do Estado Imperial para impedir o advento da Republica.
Augusto Oliveira Mattos (2009) aponta que, no ocaso do Império, os republicanos e monarquistas usaram a Guarda Negra para travarem batalhas em busca de hegemonia em meio à crise monárquica. A formação da milícia de ex-escravos proporcionou aos monarquistas a oportunidade para utilizar a Guarda Negra para punir os descontentes com a Monarquia.
A poderosa ideologia do Isabelismo, tão bem construída por Patrocínio, fez com que os libertos extrapolassem os estatutos do grupo e ameaçassem a ordem social.
Novo ato de violência, em 14 de julho de 1889 alterou a posição de Patrocínio perante a imprensa carioca. Nesse comício, os republicanos homenageavam os cem anos da Revolução Francesa e da Queda da Bastilha, na França.
Os republicanos organizaram um cortejo onde desfilaram os estandartes do Centro Republicano da Escola Politécnica da Faculdade de Medicina, em que se liam homenagens à França.
O cortejo foi um ataque direto ao regime monárquico, tendo acabado em conflito e pancadaria, quando o cortejo se deparou, a alguns quarteirões, com o grupo de negros capoeiras.
A Guarda Negra invadiu o local, promovendo violência e destruição. Os republicanos foram atacados pelo grupo de capoeiras, que declaravam morte aos simpatizantes pela República.
O grupo agrediu e feriu também as pessoas que estavam na Escola Politécnica assistindo á manifestação dos republicanos.
Em nota no Cidade do Rio, Patrocínio reconheceu que o grupo foi responsável por desorganizar os festejos do centenário da Revolução Francesa na Escola Politécnica do Rio de Janeiro.
Dizia-se horrorizado pelos atos de Guarda Negra e admitiu que embora nunca aconselhasse a violência reconheceu que alguns membros do grupo se excederam no embate com os correligionários do Partido Republicano.
No artigo Aos Homens de Cor, Patrocínio dizia que a violência era fruto da má influência dos negros republicanos que estimulara os membros da Guarda Negra a desferir todo o ódio pelos escravistas nos comícios republicanos. Tentava acusar os negros republicanos de promover atos violentos para caluniar o grupo que era pacifico.
No Rio de Janeiro, a violência da Guarda Negra, agravou ainda mais a posição de neutralidade do gabinete Ouro Preto. A inércia do mesmo em punir os autores das agitações nos comícios e festas republicanos instaurou uma verdadeira campanha republicana contra os negros e os grupos de capoeiristas.
A violência e a baderna aumentaram a insegurança popular pelo grande número de ex - escravos circulando pelas ruas.
Na noite de 15 de julho de 1889, ao sair do teatro, um tiro de revólver atingiu a carruagem da família imperial. O autor dos disparos era um jovem republicano exaltado, que gritava vivas à República pelas ruas do centro do Rio de Janeiro.
Esse incidente foi amplamente comentado pela imprensa, mas a família imperial manteve silêncio sobre o mesmo.
O aumento dos confrontos entre a Guarda Negra e a policia elevou o número de negros e mulatos de presos em função das brigas nas ruas, apesar de não constar nos autos todos os registros de ocorrências graves conflitos ou prisões de todos os membros da Guarda Negra, mas de negros bêbados e capoeiras violentos.
A repressão as maltas da Guarda Negra e o inicio da República
Os boatos sobre a saúde do imperador D.Pedro II e a inabilidade política de Isabel levaram à adesão dos militares e fazendeiros na conspiração para mudanças no regime monarquista.
A cisão dentro do próprio Partido Republicano levou à formação de dois grupos. Um deles pregava que a República teria êxito com a participação dos militares e o outro, principalmente o do Rio de Janeiro, queria o apoio popular.
O restabelecimento da saúde de D.Pedro II não aplacou as criticas a Monarquia pela crise entre os republicanos e os monarquistas. Mesmo com o Partido Liberal no poder, o afastamento de Isabel do cenário político fortaleceu a oposição, que queria reformas urgentes no estado imperial.
A pressão republicana sobre o gabinete abolicionista de João Alfredo levou à formação de um novo gabinete com o Visconde de Ouro Preto, do Partido Liberal, e com a proposta de reformas no Estado Imperial.
Em Setembro de 1889, D. Pedro II dissolveu o gabinete de João Alfredo em meio à crise entre os cafeicultores e o monarca, pela ausência de indenização prometida aos fazendeiros, pelos escravos libertados através da Lei Áurea.
A ascensão do gabinete do Visconde de Ouro Preto, em setembro de 1889, do Partido Liberal e inimigo político de Patrocínio, o leva novamente a se aproximar dos antigos correligionários republicanos.
Para se justificar, declarou-se a favor do republicanismo, num período em que se encontrava isolado politicamente e alvo de críticas por todos os jornais cariocas pelas ações da Guarda Negra.
Com o fim da aliança entre Patrocínio e o Partido Conservador, o jornal Cidade do Rio se torna alvo constante de ataques dos republicanos, e entra numa crise interna. O apoio ao gabinete de 10 de março foi justificado por Patrocínio como gratidão pela Abolição.
Com a queda do mesmo, não havia razão para continuar seu apoio à Monarquia, diante das reformas propostas por D. Pedro II, ao retornar da Europa, em agosto de 1889.
Com a queda do gabinete abolicionista, Patrocínio tentou uma reaproximação com os republicanos, afastando-se dos monarquistas.
Ele percebeu que sua permanência na política e a continuidade como jornalista na imprensa dependia do apoio dos republicanos, liberais e do novo regime de governo, já que o estado absoluto regido por reis, rainhas, príncipes e princesas estava falido e condenado à extinção”. ( ALVES,2009, p. 242)
Essa atitude levou à reestruturação do jornal Cidade do Rio, que perdeu velhos colaboradores. A crise no jornal leva à saída do redator chefe, Bandeira Júnior, em 12 de junho de 1889.
Neste período, as maltas de capoeiras iam sendo dissolvidas pouco a pouco, por causa da repressão e do aumento das prisões, após os distúrbios de 14 de julho.
Osvaldo Orico (1977, p.215) diz que “o golpe militar de 15 de novembro operou o milagre desejado: sacudiu o alicerce e fez desabar a cariótide negra que devia servir de coluna mestra ao advento do terceiro reinado”.
Também o afastamento do Partido Conservador que apoiavam as maltas enfraqueceu o poder que os grupos tinham nas ruas da cidade. Somente um ataque da Guarda Negra ocorreu após o 14 de julho. Foi o atentado contra o redator do jornal Arquivo Contemporâneo Ilustrado, Castro Soromenho, em agosto de 1889.
Em outubro de 1889, na redação do jornal, Patrocínio conspirava com as forças republicanas, que ainda o viam com desconfiança, por causa de sua participação na Guarda Negra. O jornal Cidade do Rio recebia informações sobre os principais acontecimentos que antecederam o golpe contra a Monarquia.
Os ânimos estavam exaltados e a adesão dos militares a causa republicana cresciam a cada dia, com as conspirações adentrando aos quartéis do Rio de Janeiro. Membros do Partido Republicano como Rui Barbosa e Quintino Bocaiúva se reuniram em sessões secretas com Deodoro da Fonseca e Benjamin Constant, no inicio de novembro de 1889. As intrigas e as ofensas entre monarquistas e republicanos eram publicadas diariamente na imprensa.
Para fugir das desconfianças dos republicanos, Patrocínio decidiu se estabelecer com sua família provisoriamente fora do Rio de Janeiro.
No inicio de novembro, Patrocínio vai Petrópolis, onde se hospedaria na casa de amigos, retornando à Corte para escrever as edições do Cidade do Rio, "pela circunstância de achar-me, à noite, fora da capital brasileira, não pude acompanhar os revolucionários na gloriosa vigília de que resultou a vitória republicana”. (Cidade do Rio, 14 dez. 1889)
No dia 12 de novembro, os oficiais dos quartéis do Rio de Janeiro se mobilizaram mediante os boatos de prisão de Deodoro da Fonseca, por ordem de D.Pedro II. Os militares cercam o gabinete imperial e o Parlamento.
Nesse dia, D.Pedro II se encontrava na cidade de Petrópolis. A Princesa Isabel escreveu uma carta ao pai, informando sobre a revolta dos militares e pedindo o envio dos príncipes imperiais para Petrópolis.
Na manhã do dia 15 de novembro, Deodoro da Fonseca, com Quintino Bocaiúva e os demais republicanos, decretava o fim do regime monárquico e anunciava a formação de um governo provisório.
A população carioca viu a Proclamação da República mais como um desfile militar do que de mudança de um novo regime. O povo assistiu às mudanças políticas, segundo José Murilo de Carvalho (1987), bestializado e sem reação ao banimento da família imperial.
Patrocínio, no Cidade do Rio, falava como testemunha ocular sobre os acontecimentos que deram a vitória aos republicanos ao descrever os discursos republicanos e a ação dos militares na Câmara Municipal e no palácio imperial antes do golpe de 15 de novembro.
As tropas militares, em 16 de novembro, cercaram o palácio de São Cristóvão, após a chegada de D.Pedro II de Petrópolis. A família imperial se tornou prisioneira dentro do próprio palácio. Deodoro visitou D.Pedro II e anunciou sua decisão de novo Parlamento, em banir a família Imperial do Brasil.
Patrocínio e o jornal Cidade do Rio se pronunciaram, no mês seguinte ao golpe, comentando, em nota sobre o exílio da família imperial, que não houve nenhuma repicar de sinos na catedral do Rio de Janeiro para o povo se despedir da família imperial.
A partir desse momento, Patrocínio se distanciava dos amigos monarquistas, pois não havia sentido em proteger ou defender a causa monárquica, já que não existia mais a Monarquia.
Em apoio aos golpistas, Patrocínio decidiu colocar o jornal Cidade do Rio à disposição do governo provisório e do Partido Republicano. Com este gesto, perdeu amigos e colaboradores monarquistas que apoiaram suas idéias de lealdade a Princesa Isabel e repúdio aos republicanos.
Logo após a Proclamação, Patrocínio renunciou ao mandato de vereador, antes de sua cassação pelo Governo Provisório. Mas nos primeiros três meses da Republica, se decepcionou com Deodoro da Fonseca e com os republicanos que ascenderam ao poder.
Em meio às desconfianças dos republicanos, suas ações na imprensa foram alvo de vigilância, além de ser oficialmente banido das hostes do Partido Republicano, assim como Silva Jardim.
O novo regime não reconheceu Patrocínio como colaborador para o sucesso do golpe de 15 de novembro. Não pode contar com a República para anular empréstimos contraídos e só pode manter em funcionamento o jornal Cidade do Rio por alguns meses. As dividas acumuladas levaram Patrocínio a pedir ajuda aos republicanos que lhe negaram empréstimos.
Combatido e contrariado pelos republicanos, Patrocínio continuou escrevendo seus artigos no Cidade do Rio, numa esfera carregada de disputa política entre civis e militares.
O prestigio dos monarquistas como Nabuco e Rebouças não se extinguiu com o banimento da família imperial. O afastamento da vida pública ou o autoexílio dos monarquistas foram temporários por causa do impacto da mudança de regime.
O silêncio foi a resposta deles à ascensão republicana em 15 de novembro. Muitos amigos de D.Pedro II, como André Rebouças, o acompanharam no exílio na França.
O esquecimento da Guarda Negra pela História do Brasil
Os republicanos, ao assumirem o governo, trataram de apagar todos os resquícios do antigo regime no Brasil. A imprensa foi controlada e a censura imposta. Os jornais monarquistas foram fechados e seus donos presos por ordem do governo.
A segurança e a ordem eram necessárias nas ruas da capital do Rio de Janeiro. O exército foi posto nas ruas para evitar badernas e motins de monarquistas descontentes com o banimento da família Imperial.
O advento da República foi o inicio do banimento das maltas para as prisões na Ilha de Fernando de Noronha. O principal responsável por esta repressão foi o chefe de policia João Batista Sampaio Ferraz que conhecia as maltas, bem como a área de atuação dos capoeiras na freguesia do Glória e no Campo do Santana.
Ferraz foi advogado e promotor de justiça em casos que envolviam as capoeiras, além de ser membro do Partido Republicano. Ele foi redator de jornais republicanos como A República e O Paiz até ser nomeado como chefe da policia da corte.
Sua tarefa era manter as ruas da cidade seguras e evitar atos violentos por parte da população carioca.
A ação policial contra as maltas durou entre 1889 a 1890 com inúmeras deportações como forma para impedir a intervenção do Partido Conservador (extinto) e de políticos que apoiavam os capoeiras.
Uma dessas prisões foi a de Fernão Diogo vulgo Diogo da Lapa ou Diogo Francisco de Oliveira que participou da Guarda Negra do largo da Lapa assim como de dez capoeiras no bairro do Santana em meados de dezembro de 1889.
Essa ação tinha o intuito de desarticular os grupos e por fim ao domínio das maltas na cidade do Rio de Janeiro a partir de 1890. Isso foi somente o inicio de ações que visou o banimento das maltas e o fim da criminalidade atribuída a capoeira nas ruas do Rio de Janeiro durante toda a República Velha.
Considerações finais
A Guarda Negra foi um grupo reunido pelos abolicionistas e composto por ex-cativos e negros alforriados que praticavam a capoeira. O grupo queria a continuidade da Monarquia com a Princesa Isabel que os havia libertado do cativeiro no sistema escravista.
A gratidão à Princesa e o desejo de participarem como cidadãos na sociedade carioca levaram os negros ao fanatismo e ao ódio contra o movimento republicano e aos fazendeiros escravistas.
As fontes e a bibliografia sobre a Guarda Negra e José do Patrocínio apontam os objetivos do grupo em proteger a Princesa Isabel e os estatutos de fidelidade a Monarquia que os seus membros deveriam seguir foram publicados nas páginas do jornal Cidade do Rio.
Os registros sobre a existência do grupo, bem como suas ações pacificas ou violentas, estão em artigos de José do Patrocínio, no Cidade do Rio, entre os anos de 1888 e 1889, e nos de Rui Barbosa, no Diário de Notícias, no ano de 1889.
Esses jornais circularam na cidade do Rio de Janeiro entre os anos de 1885 até o advento da República em 1889.
Divulgavam em seus artigos e editais opiniões sobre a campanha abolicionista, fatos que antecederam a Lei Áurea, o pensamento republicano, os conflitos entre monarquistas e republicanos. Também relataram as ações da Guarda Negra entre os anos de 1888 e 1889.
Nas pesquisas de Uelinton Farias Alves (2009) houve alguns grupos que se intitularam Guarda Negra no Maranhão e Rio Grande do Norte.
Mas, de acordo com Alves, esses grupos não eram hostis à República e suas ações eram pacificas e restritas ao apoio à Princesa Isabel e à Monarquia.
Conforme as pesquisas apontam nos artigos sobre a Guarda Negra não houve propostas sobre distribuição de terras para o negro ou de uma educação efetiva para ingresso no mercado de trabalho.
Nos questionamentos sobre a criação desse grupo analisamos sua ideologia, de acordo os artigos de Patrocínio, não há fontes que considerava a Guarda Negra um partido político assistencialista cuja meta era a alfabetização dos libertos e a proteção à Princesa Isabel.
A Guarda Negra não havia surgido antes do processo abolicionista, pois era inviável armar um grupo dos escravos contra seus senhores, com exceção das maltas de capoeiras a serviço dos partidos políticos antes da abolição.
O objetivo dos abolicionistas, na campanha abolicionista, era uma libertação imediata dos escravos. Eles pretendiam efetivar a Abolição e a posterior inclusão dos ex-escravos no trabalho livre.
Essa foi a proposta do grupo reunido por José do Patrocínio, em setembro de 1888, na redação do Cidade do Rio.
O Isabelismo e a violência em nome da Monarquia negam toda a ideologia exposta por Patrocínio no Cidade do Rio. Os artigos desse jornal apontam que o grupo seria uma muralha de proteção à Redentora e ajudaria os ex-escravos na instrução e na alfabetização, já que os lideres da Guarda Negra eram alfabetizados e assalariados.
No entanto, para a imprensa carioca a Guarda Negra foi formada num momento em que a liberdade do negro legitimava seus atos de violência.
A repressão do Estado Imperial, que imputava aos crimes de escravos a pena de morte ou as galés, ficou sem efeito legal. Com a liberdade dos escravos, as leis de 1831 deixaram de ter seu valor jurídico e não foi feito um novo código criminal no qual pudesse ser incluído o negro livre.
Isso justificou, de certa forma, a inércia do Estado em reprimir a violência dos libertos nas ruas do Rio de Janeiro e os conflitos entre ex-escravos e os fazendeiros escravistas, adeptos do Partido Republicano.
As ações violentas da Guarda Negra não foram punidas, mas somente reprimidas pela polícia do Rio de Janeiro, pois nos registros criminais, segundo Mattos (2009), não há especificação de que os negros presos em atos violentos fossem membros desse grupo, apesar dos relatos descreverem os negros, como praticantes da capoeira.
A preocupação dos republicanos em apagar a memória de Isabel como heroína da Abolição e marginalizar os grupos de capoeiras.
Demonstravam os receios do Partido Republicano, em ter que intervir em conflitos entre brancos e negros, em meio uma crise no Império. O partido não queria uma guerra civil ou uma resistência de uma parte da elite a favor da Monarquia.
A inércia popular nos remete a pensar porque a Guarda Negra não fez nada para evitar o banimento da família real, por que não enfrentou as tropas militares ou impediu a instalação da República.
Nas pesquisas sobre o golpe republicano, há um grande silêncio da imprensa carioca sobre a reação da Guarda Negra e de seus membros ao golpe de 15 de novembro de 1889.
Desde o último ataque aos comícios republicanos, em julho de 1889, não houve mais nenhuma ocorrência violenta do grupo nas ruas do Rio de Janeiro, que fossem relatados pela imprensa.
Houve, de fato, uma total desarticulação das maltas com a repressão imposta pela policia e pelo Gabinete Ouro Preto, devido as criticas da imprensa a violência dos capoeiras.
O afastamento de Patrocínio e de alguns membros do Partido Conservador enfraqueceram as milícias. Não há ainda, de acordo com as fontes consultadas, informações sobre a detenção de chefe da Guarda Negra, Clarindo de Almeida ou o afastamento dos negros das maltas, por causa da reação igualmente violenta dos republicanos, nos comícios nas ruas do Rio de Janeiro.
A repressão de Sampaio Ferraz foi apontada como o fim da capoeira politizada oriunda do Império e do domínio político do Partido Conservador na Corte.
Sabemos que o anseio de Patrocínio em liderar a Guarda Negra, no combate aos republicanos, foi anulado pelo gesto de repúdio ao gabinete de Visconde de Ouro Preto e o afastamento dos amigos monarquistas.
Naquele momento, a Guarda Negra deixou de ter o apoio dos demais abolicionistas como Emilio Rouedé e Olavo Bilac. Eles não concordaram com os rumos que o grupo tomou devido à violência em relação ao Partido Republicano.
Mesmo com o afastamento de Patrocínio da Guarda Negra, suas ações contraditórias entre permanecer republicano ou aderir a um monarquismo fanático levaram-no a perder importantes amigos e a atrair a desconfiança dos antigos colegas republicanos, que o ajudaram desde o início de sua ascensão no jornalismo carioca.
As críticas à postura de Patrocínio como monarquista foram feitas por seus antigos companheiros como Quintino Bocaiúva e Rui Barbosa que o apontavam como falso.
Patrocínio não queria perder os financiadores do jornal Cidade do Rio, que aplicavam recursos para a sua circulação e eram partidários da Monarquia.
Ele tinha, também, interesses políticos de conseguir visibilidade e altos cargos no governo Imperial, já que Patrocínio somente conseguiu se eleger vereador em meio à campanha abolicionista.
Portanto, todas as suas ações, como jornalista e político, visavam sua ascensão pessoal na sociedade carioca, tendo como pano de fundo a campanha abolicionista e a formação da Guarda Negra.
Osvaldo Orico (1977) comenta que a única mancha na memória do grande abolicionista foi criar a Guarda Negra. A decadência de Patrocínio no jornalismo começou com as criticas sobre a criação do grupo e sua ação violenta, divulgadas na imprensa carioca.
Assim, a Guarda Negra foi um dos instrumentos das ambições de José do Patrocínio no jornalismo e na política imperial, pois desejava transformar o grupo num partido político somente com negros semi-alfabetizados. Mas fracassou, assim como em controlar a violência do grupo.
O culto ao Isabelismo e os louvores á Monarquia foram instantaneamente esquecidos com a formação do gabinete de Visconde de Ouro Preto, em julho, e o golpe de 15 de novembro de 1889.
Somente seu gesto de colocar o jornal Cidade do Rio à disposição dos golpistas ,deixa claro que não houve de fato sinceridade em seus artigos de exaltação à Princesa Isabel e à Monarquia.
A rápida adesão de Patrocínio à República e seu envolvimento na conspiração republicana, antes do golpe de Deodoro da Fonseca e do Partido Republicano, demonstra todo o interesse do jornalista em se integrar ao novo governo.
Para obter algum cargo no Governo Provisório era necessário tentar se filiar novamente no Partido Republicano. Essa foi a forma encontrada por Patrocínio para não perder sua posição como jornalista, na imprensa carioca.
As negociações com o novo regime ajudaram a manter em circulação o jornal Cidade do Rio, que se tornaria um órgão a favor da República até 1903, ano de falência do mesmo. Patrocínio morreu dois anos depois, em meio à pobreza e reconhecendo seu erro em ter criado e apoiado a Guarda Negra.
FONTE
http://guardanegra.blogspot.com.br/?view=classic
Introdução
A escravidão deixou sua marca na sociedade brasileira cuja exportação de matéria prima foi desenvolvida mediante trabalho escravo nas lavouras de cana de açúcar, de café e na extração de minerais. O trafico negreiro foi responsável pela introdução de grande números de africanos num comércio de seres humanos entre Brasil, Portugal e África entre os séculos XVI e XIX.
A expansão das lavouras de café na região sudeste foi responsável pelo deslocamento de negros escravos através do tráfico entre províncias, do nordeste para o sul. Esse movimento do escravo foi criticado por políticos do império pela alta concentração escrava que causariam rebeliões e fugas de escravos na região sudeste.
O medo de uma grande rebelião escrava foi comentado pela historiadora Célia Marinho de Azevedo (1987) que concluiu em sua obra “Onda Negra, medo Branco” que a pressão política para o fim da escravidão estava relacionada ao receio de uma revolta de negros semelhante aos embates entre escravos e brancos no Haiti.
Para os negros livres o sonho de liberdade e a busca melhores condições de vida os motivaram a buscarem trabalho assalariado longe do meio rural. Isso atraiu grande número de ex-escravos e libertos para a sede do império – a corte no Rio de janeiro que se concentraram em cortiços miseráveis e casebres na área portuária ou terrenos desabitados na periferia da cidade.
No meio urbano, os negros que permaneciam escravos prestavam serviços nas casas de veraneio dos “barões do Café”, como escravos domésticos ou alugados (de ganho) para outros senhores. Muitos desses escravos adquiriram sua liberdade ao pagar pelas alforrias com a prestação de serviços aos comerciantes, principalmente na Corte do Rio de Janeiro.
Logo esta e regiões da cidade receberiam um contingente enorme de negros de diferentes etnias e com diversas profissões como marceneiros, ferreiros, carpinteiros, sapateiros e comerciantes.
Na corte e nos arredores da cidade, muitos desses ex-escravos não encontravam moradia fixa ou acolhida pela população local. Somente as irmandades de negros como os de Nossa senhora do Rosário, de Santa Efigênia e de São Benedito prestavam assistência aos ex-escravos que se instalaram na região próxima suas igrejas. Outros negros que não tiveram a mesma sorte se envolviam na mendicância e na violência ao escolher grupos, ao qual se identificavam conforme origem étnica e cultural de cada grupo.
A população urbana vivia em constante apreensão com estes grupos que adentravam a corte e se integravam as maltas de capoeiras.
A origem das Maltas de capoeiras no Rio de Janeiro
O historiador Carlos Eugênio Líbano Soares (1994) estudou as maltas de capoeiras desde a colônia e concluiu que os grupos de mestiços livres (nacionais) e escravos africanos se dividiam entre Guayamus (composto por mestiços, pardos e brancos pobres) e Nagóas (composto por negros escravos e alforriados) na cidade do Rio de Janeiro entre 1850 -1890.
Os Nagóas integravam os africanos que vieram da Costa dos Escravos (região nordeste da África) e outros que se deslocavam para região sudeste através do tráfico interprovincial. Já os Guayamus viviam na região portuária da cidade a muitos anos.
Estes grupos se confrontaram entre si nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, durante o período de crise na sociedade escravista, ou seja, entre os anos de 1850 com o fim do tráfico negreiro até o advento da República em 1889.
Essa crise surgiu diante do dilema de libertar os escravos ou prorrogar o regime escravista por alguns anos. Os conflitos ideológicos e a disputa entre os partidos sobre a emancipação escrava gerou o aliciamento de maltas de capoeiras. O recrutamento era feito, de acordo com os interesses políticos da região a qual pertenciam os negros e mestiços na cidade do Rio de Janeiro.
Um dos conflitos foi o crescimento do interesse político de grupos antagônicos pelo controle das principais regiões da cidade. Isso instigou a brutalidade e as brigas entre as maltas e a policia carioca.
A violência das maltas foi apoiado por grupos ou membros dos partidos Conservador ou Liberal, que se utilizaram das mesmas como milícias armadas, para assassinar inimigos pessoais e desafetos políticos.
Os Nagóas eram protegidos por membros do partido conservador , que recrutavam estes bandos para invadir residências, lojas comerciais ou jornais abolicionistas Já os Guayamus eram apoiados pelos liberais e depois escolhidos como guardas costas de políticos, contra as ameaças de membros do Partido Conservador.
Para ilustrar este domínio, na década de 1870, Soares (1994, p.80) comentou que o controle das ruas do Rio de Janeiro era dividido entre as milícias de capoeiras que repartiam entre si o domínio das zonas urbanas e rurais, conforme o domicilio e o local de trabalho de negros, escravos de ganho e libertos. Essas milícias recebiam libertos que atuaram na Guerra do Paraguai e retornaram em 1870 com patentes do exército, mas sem prestigio social.
Relatos de documentos da época apontavam para a concentração de grupos que lutavam capoeiras na área de Mata Atlântica e morros da zona portuária pertenciam ao grupo Nagóa.
Enquanto que os Guayamus se concentravam nas áreas residências e no centro da Corte Imperial.
Os Guayamus eram mestiços e brancos, de origem portuguesa, que executavam serviços diversos no comércio e nas casas da elite urbana.
As maltas do grupo Nagóa habitavam em áreas de chácaras e grandes sítios que ocupavam a parte rural da cidade do Rio de janeiro, pois eram em sua maioria escravos ou prestavam serviços como negros de ganho no centro.
Seu domínio se estendia da região do Glória até os limites do Campo do Santana e os membros eram divididos pelos bairros e freguesias conforme o local em que residiam. Por exemplo, a malta “Cadeira da senhora” controlavam a região do Santana e o “Flor da gente” exerciam seu domínio sobre a freguesia do Glória.
Os Guayamus tinham seu território restrito, ao centro comercial, periferia e portos perto da orla marítima, como o Morro da Providencia e do São Bento. Seu limite natural ia do Largo do Rocio (atual Praça Tiradentes) até uma parte do Campo do Santana.
As maltas “Três cachos” da freguesia de Santa Rita e “Franciscanos”, da freguesia de São Francisco de Paula eram as mais conhecidas dessa região, por pertencerem ao grupo Guayamu.
O poder destas maltas, graças ao apoio de partidos políticos, cresceu em importância perante a imprensa carioca. Pois esses passaram a escrever em seus periódicos os distúrbios provocados pelos capoeiristas, a violência e a rivalidade entre os grupos.
Segundo a imprensa, os Guayamus e os Nagóas pretendiam dominar todo o meio urbano carioca, com a conivência da elite política da corte.
Para coibir a ação das maltas, a delegacia da Freguesia do Glória incorporavam capoeiras como integrantes da força policial, com o objetivo de controlar a região.
Com essa atitude por parte da policia carioca, os crimes das maltas foram destaque nos jornais do Rio de Janeiro, cuja responsabilidade atribuíram aos negros ou brancos, de descendência portuguesa, a pratica da violência associada a capoeira. Também foram responsáveis pelo aumento da criminalidade urbana.
O grande destaque nos jornais Gazeta da Tarde e Diário de Noticias foram a descrição das ações de maltas que se envolviam em lutas com navalhas e nos assassinatos de membros dos grupos rivais.
Essa rivalidade entre Nagóas e Guayamus tornou a ação policial ineficaz em tentar controlar as maltas e impedir estes os assassinatos. Os registros criminais do período apontam para a prisão de inúmeros negros, pardos e brancos, pela pratica da capoeira em festas e comemorações religiosas.
As diligencias policiais apreendiam negros bêbados que portavam navalhas, mas não conseguiam evitar os assassinatos nas ruas.
No entanto, os negros mais violentos eram libertados alguns dias depois, graças a ação judicial impetrada por algum senhor de posses, que devia favores as milícias da região ou donos dos escravos, que integrava as maltas.
Ou seja, as ações criminosas dos capoeiras não eram passiveis de punição,devido ao interesse de grupos econômicos ou políticos, que lucravam com a violência das maltas nas ruas.
Com o fim da escravidão em 1888, as maltas mudaram suas relações com os partidos políticos, pela introdução de membros do Partido Liberal ao inexpressivo Partido Republicano, fundado em 1870.
O crescimento do republicanismo foi possível, graças à adesão alguns liberais e conservadores descontentes com a Monarquia, após a abolição.
A abolição da Escravidão e as ideias de José do Patrocínio
Com a abolição, os grupos de capoeiras se dividiram em milícias, de acordo com os interesses políticos recebido de ambos os partidos – conservador ou liberal.
Membros da Confederação Abolicionista como José do Patrocínio tentaram apaziguar as tensões entre os grupos sociais, ao publicar artigos exaltando as qualidades dos ex-cativos.
Sua meta era inserir no imaginário popular as virtudes que negros poderiam adquirir como cidadão após sua emancipação .
Para a Confederação e José do patrocínio era necessário mudar a mentalidade da população carioca que associavam os ex-escravos as maltas de capoeiras e a violência urbana.
Era importante que a sociedade carioca acreditasse que o negro criminoso era vitima da ignorância, ligada a séculos de cativeiro. E que a correção de sua índole violenta seria feita pela educação e pelo monitoramento de suas ações individuais e coletivas.
Tudo isso visando o apaziguamento das tensões sociais entre ex-escravos e elite urbana.
Patrocínio pensava, que assim , os negros seriam integrados a sociedade escravista. Suas ideias foram publicadas em seu jornal ”Cidade do Rio”, entre o ano de 1887 até o advento da República em 1889.
Para ele, a integração do negro passava pela proteção das instituições políticas, ao apoiar o Império no terceiro reinado, cuja proposta final era o de educar os ex-escravos para o trabalho assalariado tanto nas fazendas, quanto no meio urbano.
As milicias urbanas e a Guarda Negra
O fortalecimento do Partido Republicano levou o gabinete de João Alfredo de Oliveira (Partido Conservador) dar apoio direto as maltas de capoeiras da região da Lapa e Santana que formaria a temida Guarda Negra.
Ela foi reunida por José do Patrocínio, em 25 de setembro de 1888, na redação do jornal Cidade do Rio, como um grupo de proteção a Monarquia, diante dos exaltados discursos de republicanos, nos comícios ao redor da cidade..
As milícias ou maltas de capoeiras do grupo Nagoa da região do Santana e do largo da Lapa foi nomeada Guarda Negra pela imprensa carioca, ao relatar a onda de violência nos comícios republicanos promovidos por Silva Jardim. Estes locais eram controlados politicamente pelo Partido Conservador.
No entanto, a formação da Guarda Negra foi posterior as rivalidades entre Guayamus e Nagóas diante do fim escravidão. Parte do grupo Guayamus e a maioria dos membros dos Nagóas se reuniram em torno do Partido Conservador por sua gratidão a Princesa Isabel e o gabinete João Alfredo.
Dessa união surgiu a Guarda Negra da Redentora. Era o inicio de uma campanha para dar aos ex-escravos educação e alfabetização, para se adaptarem a liberdade e se integrarem a sociedade.
A integração seria pelo trabalho no comércio urbano ou nas áreas rurais como assalariados, seguindo as orientações da Confederação Abolicionista.
Só que Patrocínio não pensava que essa inclusão deveria incorporar as impressões de ódio e rancor dos negros para com seu meio social. Pois os ex-cativos tiveram contato com esta sociedade em cotidiano, quando ainda eram escravos.
Os negros que integravam as maltas já viviam no meio urbano seja como livres ou escravos. Também tiveram contato com o meio político através dos interesses mútuos entre as maltas e os Partidos.
Para eles, a abolição significava criar um partido político para eliminaria à discriminação dos brancos e promoveria o acesso a terra para os negros. Mesmo com a perspectiva de transformações com a Lei Áurea, a condição social ou econômica do negro não mudou com a abolição.
Seu status como cidadão foi permitido através do controle político e ideológico dos partidos no período de transição entre Monarquia e República.
As versões de historiadores sobre a origem da Guarda Negra
Houve várias versões sobre a formação de milícias negras no Rio de Janeiro e em outras províncias como Maranhão, Amazonas e Bahia.
Também as fontes apontam para o envolvimento de conservadores como Ferreira Viana, João Alfredo e de abolicionistas como Patrocínio e Emile Rouéde com grupos de capoeiras.
Na formação da Guarda Negra, pós abolição, há relatos de dois grupos criados ou reunidos por abolicionistas e membros do Partido Conservador.
O primeiro foi reunido por Emile Rouéde em julho de 1888 na casa de amigos em que convidou os negros libertos do 13 de maio para criar uma associação que representasse a submissão dos mesmos a sociedade branca.
O segundo foi à milícia de brancos e negros alforriados reunidos pelo gabinete de João Alfredo, que repetia a forma empregada pelo Partido Conservador, contra os inimigos políticos do regime monárquico.
O grupo deveria agir de forma clandestina, para que espalhasse o medo entre os adversários e permitir ao Partido Conservador incorporar a camada popular mais pobre a sua tutela.
A primeira versão dada sobre a origem do grupo foi narrada por Orico, biográfo de José Patrocínio.
A Guarda Negra, para Orico (1977), foi constituída a partir um grupo de negros, apoiados por monarquistas, que se reuniram para formar uma irmandade negra, a Sociedade Recreativa Habitante da Lua, na região de Santana – reduto dos Nagôas.
Essa irmandade era formada por negros alforriados e, posteriormente, passou a aceitar negros libertos pela Lei Áurea.
Os dados mais precisos sobre essa irmandade sugerem que o grupo dos nagoas foram os elementos que formaram a Guarda Negra, por terem no passado apoiado o Partido Conservador.
Essa irmandade jurava defender a Monarquia e obedecia a compromissos solenes e rituais de devoção a Isabel, com sessões secretas e juramentos sagrados, baseado na Bíblia. A violação do segredo dessa irmandade levava à expulsão ou à morte dos culpados.
A irmandade esperava o advento do terceiro reinado e deveria reagir a qualquer ameaça pessoal à Princesa Isabel.
O culto a princesa Isabel ou o Isabelismo motivou o grupo a agregar novos adeptos, quando a irmandade mudou de nome para Sociedade Beneficente Isabel , a Redentora, cujos dados sobre a origem do grupo e seus membros ainda estão ocultos.
Segundo Magalhães Junior (1976) a formação da primeira versão da Guarda Negra foi iniciativa não de José do Patrocínio, mas de Manuel Maria Beaurepaire Pinto Peixoto, abolicionista e monarquista.
Em sua obra sobre essas milicias negras, Magalhães Júnior explicava que os republicanos ficaram indignados pelo aliciamento de homens de cor (negros), para engrossar as hostes monarquistas e insinuava que a Guarda Negra estava ligada ao ministro da Justiça Ferreira Viana, com total apoio de João Alfredo.
Para Maria Lúcia Rangel Ricci (1990) os idealizadores da Guarda Negra foram os abolicionistas mais exaltados, como José do Patrocínio, que queriam combater a influência do Partido Republicano, perante a população do Rio de Janeiro.
Patrocínio queria que a ideologia de proteção à Redentora Isabel, construída por esse grupo, se estendesse para as demais províncias do Império.
A Guarda Negra, segundo Robert Daibert Júnior (2004), foi uma milícia política com ares religiosos. Seus membros comportavam-se como arruaceiros e tinham como principal foco de ação desestabilizar as conferências republicanas.
Os republicanos consideravam os membros da Guarda Negra um bando de marginais liderados por negros ressentidos com sua inferioridade na sociedade carioca.
Augusto Mattos (2009) aponta que a Guarda Negra teve sua formação iniciada na casa do abolicionista e monarquista Emilio Rouedé, em 10 de julho de 1888, com o total apoio de José de Patrocínio, que se intitulou o criador e mentor do grupo.
Segundo Mattos, nos estatutos sobre o grupo, publicados no Cidade do Rio, os negros escolhiam os membros de uma diretoria que autorizava admissão de novos integrantes.
Mattos (2009) ainda descreve os integrantes da Guarda Negra como negros alfabetizados, que tinham a missão de agregar outros ex-escravos para o grupo, sobre a proteção dos abolicionistas.
Seus associados consideraram a data de 13 de maio como um marco da libertação dos cativos no Brasil e juraram defender a pessoa que promoveu a extinção da escravidão, a Princesa Isabel.
Os estatutos da Guarda Negra ordenavam que os negros só trabalhassem em fazendas cujos proprietários não fossem hostis a Isabel e apoiassem o terceiro reinado.
Patrocínio solicitou o apoio da Confederação Abolicionista à Guarda Negra, para que suas idéias fossem divulgadas nas demais províncias do Brasil. Queria também o apoio da imprensa.
No entanto, os republicanos não aceitaram a formação de milícia armadas apoiadas por abolicionistas e o Isabelismo de Patrocínio. Em seus jornais como Província de São Paulo, Gazeta da Tarde e O Paiz criticaram a postura da Confederação Abolicionista, de aceitar semelhante ideia e apoiar o fanatismo de Patrocínio.
As criticas da imprensa carioca á Guarda Negra
Os discursos de repúdio à Guarda Negra pelos republicanos defendiam a ideia de que uma nova nação necessitava de ter povo civilizado e moderno.
Essas idéias estavam embutidas nas propagandas republicanas e nos discursos de Silva Jardim que defendiam que a modernização da cidade do Rio de Janeiro era incompatível com a presença de libertos circulando entre os membros da elite branca.
Esses discursos racistas eram aplaudidos pelos brancos e rejeitados pelos negros.
O partido republicano não teve a adesão ou o apoio das maltas de capoeiras por causa de sua ideologia escravista e racista. Os membros do partido, compostos por fazendeiros escravistas e positivistas não admitiam ter qualquer ligação com mulatos ou mestiços.
Com exceção da ala progressista do Partido Republicano de São Paulo, que tinha como membro Quintino Bocaiuva, que apoiou alguns escritores abolicionistas como Luis da Gama, Ferreira de Meneses e José do Patrocínio.
Por outro lado, os monarquistas e os membros do Partido Conservador se defenderam das criticas republicanas associar as ações do grupo a postura de benevolência dos negros, para com futura imperatriz do Brasil.
Para os conservadores, os integrantes da Guarda Negra eram negros agradecidos pelo ato da Princesa Isabel no dia 13 de Maio. Do cativeiro, a Guarda Negra surgiu como um apoio à Monarquia, que lhes inspirava lealdade e gratidão.
Em seu discurso sobre o tema , Patrocínio disse que neste dia os negros deixavam de ser coisas, para começarem a ser homens, algo que as instituições não poderiam negar com base nas leis vinculadas aos princípios de liberdade, Igualdade e Fraternidade, com base no amor e na gratidão, conforme artigo publicado no jornal Cidade do Rio em 05 de janeiro de 1889.
Patrocínio acrescentou em seu artigo em 16 de janeiro de 1889, que os republicanos de 14 de maio estavam deveras incomodados com a existência da Guarda Negra.
Para impopularizar essa corporação, que é um partido político, tão legitimo como qualquer outro, dizem os pseudo democratas, que ela tem por fim armar os negros contra os brancos.
Alguns meses após a publicação desse artigo Clarindo de Almeida, chefe do grupo, concedeu uma entrevista ao jornal Gazeta de Noticias, onde dizia qual era sua proposta e do grupo. Ele comentava que os cidadãos negros eram patriotas gratos à Monarquia e à Princesa Isabel pela liberdade.
Criticou a violência sofrida pelos negros e que era atribuída ao Partido Republicano. Finalizava dizendo que a Guarda Negra não era responsável pela anarquia nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, denunciando a cumplicidade entre os republicanos do quatorze de maio e a maltas nos atentados às manifestações pacificas a favor da Monarquia.
Para reforçar as palavras de Clarindo de Almeida, Patrocínio escreveu um artigo de protesto contra o redator do Diário de Noticias, Rui Barbosa, ao dizer que a primitiva Guarda Negra era composta de homens livres, trabalhadores dignos de respeito, pelo elevado sentimento que os congregava entre si e a sociedade que os estavam acolhendo.
Os republicanos e a Guarda Negra
O político Rui Barbosa foi o principal crítico da formação da Guarda Negra e do envolvimento de José do Patrocínio com esse grupo. Ele não concordava com a atuação de uma milícia composta por ex-escravos liderados por negros abolicionistas, pois acreditavam que os negros não precisavam de tutores para ser inseridos na sociedade carioca, como cidadãos.
Para os republicanos como Rui Barbosa, a Guarda Negra foi organizada pelo governo imperial para combater os opositores do regime monárquico. Os propósitos do grupo, segundo os republicanos, eram provocar atritos que levariam a um confronto dos negros com a sociedade branca.
No jornal Diário de Noticias, Rui Barbosa descrevia a Guarda Negra como um grupo de negros, de caráter não oficial, criado para defender o gabinete João Alfredo e fortalecer a imagem de Isabel perante a população carioca.
Em 09 de maio de 1889, em nota no Diário de Noticias, Rui Barbosa apontou Sampaio Vianna como presidente da Guarda Negra e dizia que os demais membros eram os negros chamados Hygino, Manoel Antônio, Jason, Aprígio, Gaspar e Theócrito.
As criticas de Barbosa apresentava contradições já que suas ações políticas também apresentam as marcas de um paternalismo excludente ao propor medidas de educação para os negros.
Essas medidas incluíam a criação de fazendas agrícolas para alfabetização e ensino de profissões manuais para os ex-escravos.
O projeto educativo de Barbosa visava o confinamento de negros no interior para evitar o contato com a elite branca do meio urbano e os imigrantes que adentravam as capitais do Império – Rio de Janeiro e São Paulo.
O projeto diminuiria o número de ex-escravos nas cidades, já que a elite escravocrata tinha receio de revoltas e do aumento da violência, pela grande concentração de negros nestes locais.
O temor era oriundo da convivência cotidiana com as maltas e as ações violentas da policia, em repressão a estes grupos.
Patrocínio defendia a Guarda Negra, afirmando que o grupo combatia a influência republicana, de forma pacifica, mas que se fosse necessário, faria uma barreira de proteção à Regente, aparando todas as ofensas e ameaças contra ela.
Por isso, a estratégia de associar as maltas de capoeiras à Guarda Negra foi uma forma de resistência a qualquer movimento contra a Monarquia, recorrendo a extremos, como a violência, para isso.
O grupo tinha uma ideologia, construída pelos monarquistas, de defesa do terceiro reinado, pois temiam a vitória republicana, devido à doença do Imperador D.Pedro II. Os monarquistas e os republicanos percebiam o despreparo de Isabel nas questões políticas e temiam o fim da Monarquia.
Em resposta ao Partido Republicano, Patrocínio argumentou que o objetivo da Guarda Negra, na sua formação inicial, era defender a vida da Princesa Isabel, por causa dos discursos reacionários de Silva Jardim, membro do partido, que pretendiam eliminar a família imperial e implantar a República, da mesma maneira que a Revolução Francesa.
Segundo Uelington F. Alves (2009), mesmo formado nos princípios republicanos, mas por gratidão à Monarquia, José do Patrocínio queria impedir a ascensão republicana. Isso o levou a aparecer, no jornal Cidade do Rio, como divulgador do grupo Guarda Negra, e não como o criador.
As ações violentas da Guarda Negra
No entanto, a adesão cada vez maior à causa da Redentora pelos negros suscitava um novo temor da elite e da imprensa: uma milícia negra nas ruas do Rio de Janeiro.
Esse temor foi materializado no final do ano de 1888, quando a insegurança se instalou na Corte Imperial e os negros foram hostilizados por parte da população carioca.
A polícia tentava coibir os atentados aos negros e aos republicanos, nos comícios nas ruas do Rio de Janeiro. Patrocínio apontou, no Cidade do Rio, que as agressões à população negra eram estimuladas pelos fazendeiros escravistas.
A imprensa republicana criticava a Guarda Negra e acusava Patrocínio tornando-o co-responsável pelos seus altos níveis de violência do grupo. Em 30 de dezembro de 1888, numa conferência de Silva Jardim, um grupo de capoeiras invadiu o local e provocou baderna.
A invasão teve como conseqüência pessoas feridas e mortas devido ao conflito entre republicanos e monarquistas. Um dos participantes era o chefe da malta José Antônio dos Santos, do grupo Nagóa e residente na rua da Saúde, na região do Campo do Santana.
Os republicanos reagiram a tiros para evitar mais destruição e proteger suas vidas. A imprensa, ao saber do fato, passou a criticar a polícia por ter permitido essa invasão e ser conivente com os atos violentos dos negros.
Ao comentar os acontecimentos do comício, Patrocínio, no Cidade do Rio, dizia que lamentava escrever sobre os feridos e a destruição por negros violentos a mando dos neo-republicanos, no local em que ocorria uma conferência republicana.
Patrocínio dizia que a Guarda Negra não foi o grupo responsável por aquela violência, mas capoeiras e criminosos que percorriam as ruas da cidade armados de navalhas.
Afirmação desmentida pelos registros da casa de detenção que apontou José Antônio dos Santos como líder da principal malta, que integrava a Guarda Negra naquele dia.
De acordo com nota publicada no jornal Cidade do Rio, em 31 de dezembro de 1888, Clarindo de Almeida ignorava as criticas da imprensa e acusava os negros republicanos de promoverem atentados contra a Guarda Negra.
Almeida declarava ainda que o grupo não queria perturbar a ordem estabelecida nas ruas do Rio de Janeiro e apontava as maltas a serviço do Partido Conservador, como responsáveis pelos distúrbios.
Almeida dizia, ainda, que não era do interesse da Guarda Negra provocar a anarquia na sociedade carioca, mas prometeu que continuaria a combater a instituição representada pelos escravistas - Partido Republicano - pelos trezentos anos de escravidão.
No Diário de Noticias, Rui Barbosa, ao comentar sobre a violência no comício de dezembro de 1888, dizia que a Guarda Negra era a conseqüência de todos os séculos de cativeiro, a que foram submetidos os negros.
O estimulo à violência era culpa da Princesa Isabel, que havia libertado o negro como um ato humanitário, mas não podia prever as conseqüências que a Abolição traria para a sociedade carioca.
Em resposta às ações de violência da Guarda Negra, a imprensa paulista divulgou uma nota em os negros da cidade de Casa Branca, na província de São Paulo, lamentavam que seus irmãos de cor se envolvessem em atos violentos em nome da Monarquia.
Em nota publicada na Cidade do Rio, de 16 de janeiro de 1889, os anúncios de violência da Guarda Negra chegaram às associações e irmandades de negros na província de São Paulo. Eles se reuniram na cidade de Santos para protestar contra a Monarquia e apoiar a propaganda republicana.
Repudiavam o Isabelismo, ao mesmo tempo em que lamentavam a participação de Patrocínio na Guarda Negra.
Em 02 de fevereiro de 1889, os negros da Casa Branca se pronunciavam sobre a exploração dos negros e a perseguição ao Partido Republicano feito pela Guarda Negra, no Rio de Janeiro.
Nesse artigo publicado pelo jornal Gazeta Nacional em 02 de fevereiro de 1889, são claras as posições dos negros paulistas de condenação às ações violentas da Guarda Negra.
Eles apontavam que esse grupo não tinha o direito de perturbar a ordem e impedir a livre manifestação da opinião dos negros em relação à sua filiação partidária.
Também reforçavam que a libertação dos cativos foi um processo apoiado pela população brasileira, e não um ato exclusivo do trono.
Eles não tinham tal lealdade à Monarquia, mas sim aos abolicionistas e em sua ação de libertá-los do cativeiro, na província de São Paulo.
Nas palavras dos negros da cidade de Casa Branca percebe-se que esses grupos não aprovavam o culto à Princesa Isabel perante os ex-escravos. Nem todos os negros eram a favor da criação de uma milícia contra os brancos ou partidos políticos, em nome da Monarquia.
Em Campinas, província de São Paulo, os libertos fizeram um pronunciamento, publicado pelo jornal O Paiz em 05 de março de 1889, onde em assembléia se reuniram todos que não concordaram com a formação da Guarda Negra para defender a Princesa Isabel.
Declaram que não eram obrigados a defenderem o trono da Princesa Isabel, a quem devotaram respeito igual que contribuíram tanto os nacionais quanto os estrangeiros, na luta abolicionista.
Eles aproveitaram a ocasião para protestar contra o recrutamento de negros para compor a milícia que assassinavam ou feriam os antigos escravos. No final afirmavam que eram brasileiros saídos do cativeiro e que passaram a viver como homens livres.
Na província do Rio de janeiro, os simpatizantes da Guarda Negra ficaram decepcionados com seus atos violentos nos comícios republicanos. Os abolicionistas, como André Rebouças, foi um dos que reprovaram a postura de Patrocínio em criar o grupo e permitir que o mesmo se entregasse a um fanatismo que geraria mais violência e crítica dos republicanos aos monarquistas.
A observação de Rebouças foi com base nos distúrbios que agravaram as rixas entre os republicanos e a Guarda Negra nas ruas da cidade do Rio de Janeiro.
Os jornais republicanos, diante desses distúrbios, apontaram a Guarda Negra como responsável direta por atos violentos contra o Partido Republicano. O Paiz e o Diário de Noticias publicaram artigos em que criticavam essa violência e acusavam o gabinete João Alfredo de permitir que a Guarda Negra continuasse a perturbar os comícios republicanos na capital do Rio de Janeiro.
O governo imperial foi acusado de incapaz de controlar a milícia, que supostamente, protegia a Princesa Isabel dos males republicanos.
Para Rui Barbosa e Silva Jardim, a Guarda Negra foi instrumento de repressão do Estado Imperial para impedir o advento da Republica.
Augusto Oliveira Mattos (2009) aponta que, no ocaso do Império, os republicanos e monarquistas usaram a Guarda Negra para travarem batalhas em busca de hegemonia em meio à crise monárquica. A formação da milícia de ex-escravos proporcionou aos monarquistas a oportunidade para utilizar a Guarda Negra para punir os descontentes com a Monarquia.
A poderosa ideologia do Isabelismo, tão bem construída por Patrocínio, fez com que os libertos extrapolassem os estatutos do grupo e ameaçassem a ordem social.
Novo ato de violência, em 14 de julho de 1889 alterou a posição de Patrocínio perante a imprensa carioca. Nesse comício, os republicanos homenageavam os cem anos da Revolução Francesa e da Queda da Bastilha, na França.
Os republicanos organizaram um cortejo onde desfilaram os estandartes do Centro Republicano da Escola Politécnica da Faculdade de Medicina, em que se liam homenagens à França.
O cortejo foi um ataque direto ao regime monárquico, tendo acabado em conflito e pancadaria, quando o cortejo se deparou, a alguns quarteirões, com o grupo de negros capoeiras.
A Guarda Negra invadiu o local, promovendo violência e destruição. Os republicanos foram atacados pelo grupo de capoeiras, que declaravam morte aos simpatizantes pela República.
O grupo agrediu e feriu também as pessoas que estavam na Escola Politécnica assistindo á manifestação dos republicanos.
Em nota no Cidade do Rio, Patrocínio reconheceu que o grupo foi responsável por desorganizar os festejos do centenário da Revolução Francesa na Escola Politécnica do Rio de Janeiro.
Dizia-se horrorizado pelos atos de Guarda Negra e admitiu que embora nunca aconselhasse a violência reconheceu que alguns membros do grupo se excederam no embate com os correligionários do Partido Republicano.
No artigo Aos Homens de Cor, Patrocínio dizia que a violência era fruto da má influência dos negros republicanos que estimulara os membros da Guarda Negra a desferir todo o ódio pelos escravistas nos comícios republicanos. Tentava acusar os negros republicanos de promover atos violentos para caluniar o grupo que era pacifico.
No Rio de Janeiro, a violência da Guarda Negra, agravou ainda mais a posição de neutralidade do gabinete Ouro Preto. A inércia do mesmo em punir os autores das agitações nos comícios e festas republicanos instaurou uma verdadeira campanha republicana contra os negros e os grupos de capoeiristas.
A violência e a baderna aumentaram a insegurança popular pelo grande número de ex - escravos circulando pelas ruas.
Na noite de 15 de julho de 1889, ao sair do teatro, um tiro de revólver atingiu a carruagem da família imperial. O autor dos disparos era um jovem republicano exaltado, que gritava vivas à República pelas ruas do centro do Rio de Janeiro.
Esse incidente foi amplamente comentado pela imprensa, mas a família imperial manteve silêncio sobre o mesmo.
O aumento dos confrontos entre a Guarda Negra e a policia elevou o número de negros e mulatos de presos em função das brigas nas ruas, apesar de não constar nos autos todos os registros de ocorrências graves conflitos ou prisões de todos os membros da Guarda Negra, mas de negros bêbados e capoeiras violentos.
A repressão as maltas da Guarda Negra e o inicio da República
Os boatos sobre a saúde do imperador D.Pedro II e a inabilidade política de Isabel levaram à adesão dos militares e fazendeiros na conspiração para mudanças no regime monarquista.
A cisão dentro do próprio Partido Republicano levou à formação de dois grupos. Um deles pregava que a República teria êxito com a participação dos militares e o outro, principalmente o do Rio de Janeiro, queria o apoio popular.
O restabelecimento da saúde de D.Pedro II não aplacou as criticas a Monarquia pela crise entre os republicanos e os monarquistas. Mesmo com o Partido Liberal no poder, o afastamento de Isabel do cenário político fortaleceu a oposição, que queria reformas urgentes no estado imperial.
A pressão republicana sobre o gabinete abolicionista de João Alfredo levou à formação de um novo gabinete com o Visconde de Ouro Preto, do Partido Liberal, e com a proposta de reformas no Estado Imperial.
Em Setembro de 1889, D. Pedro II dissolveu o gabinete de João Alfredo em meio à crise entre os cafeicultores e o monarca, pela ausência de indenização prometida aos fazendeiros, pelos escravos libertados através da Lei Áurea.
A ascensão do gabinete do Visconde de Ouro Preto, em setembro de 1889, do Partido Liberal e inimigo político de Patrocínio, o leva novamente a se aproximar dos antigos correligionários republicanos.
Para se justificar, declarou-se a favor do republicanismo, num período em que se encontrava isolado politicamente e alvo de críticas por todos os jornais cariocas pelas ações da Guarda Negra.
Com o fim da aliança entre Patrocínio e o Partido Conservador, o jornal Cidade do Rio se torna alvo constante de ataques dos republicanos, e entra numa crise interna. O apoio ao gabinete de 10 de março foi justificado por Patrocínio como gratidão pela Abolição.
Com a queda do mesmo, não havia razão para continuar seu apoio à Monarquia, diante das reformas propostas por D. Pedro II, ao retornar da Europa, em agosto de 1889.
Com a queda do gabinete abolicionista, Patrocínio tentou uma reaproximação com os republicanos, afastando-se dos monarquistas.
Ele percebeu que sua permanência na política e a continuidade como jornalista na imprensa dependia do apoio dos republicanos, liberais e do novo regime de governo, já que o estado absoluto regido por reis, rainhas, príncipes e princesas estava falido e condenado à extinção”. ( ALVES,2009, p. 242)
Essa atitude levou à reestruturação do jornal Cidade do Rio, que perdeu velhos colaboradores. A crise no jornal leva à saída do redator chefe, Bandeira Júnior, em 12 de junho de 1889.
Neste período, as maltas de capoeiras iam sendo dissolvidas pouco a pouco, por causa da repressão e do aumento das prisões, após os distúrbios de 14 de julho.
Osvaldo Orico (1977, p.215) diz que “o golpe militar de 15 de novembro operou o milagre desejado: sacudiu o alicerce e fez desabar a cariótide negra que devia servir de coluna mestra ao advento do terceiro reinado”.
Também o afastamento do Partido Conservador que apoiavam as maltas enfraqueceu o poder que os grupos tinham nas ruas da cidade. Somente um ataque da Guarda Negra ocorreu após o 14 de julho. Foi o atentado contra o redator do jornal Arquivo Contemporâneo Ilustrado, Castro Soromenho, em agosto de 1889.
Em outubro de 1889, na redação do jornal, Patrocínio conspirava com as forças republicanas, que ainda o viam com desconfiança, por causa de sua participação na Guarda Negra. O jornal Cidade do Rio recebia informações sobre os principais acontecimentos que antecederam o golpe contra a Monarquia.
Os ânimos estavam exaltados e a adesão dos militares a causa republicana cresciam a cada dia, com as conspirações adentrando aos quartéis do Rio de Janeiro. Membros do Partido Republicano como Rui Barbosa e Quintino Bocaiúva se reuniram em sessões secretas com Deodoro da Fonseca e Benjamin Constant, no inicio de novembro de 1889. As intrigas e as ofensas entre monarquistas e republicanos eram publicadas diariamente na imprensa.
Para fugir das desconfianças dos republicanos, Patrocínio decidiu se estabelecer com sua família provisoriamente fora do Rio de Janeiro.
No inicio de novembro, Patrocínio vai Petrópolis, onde se hospedaria na casa de amigos, retornando à Corte para escrever as edições do Cidade do Rio, "pela circunstância de achar-me, à noite, fora da capital brasileira, não pude acompanhar os revolucionários na gloriosa vigília de que resultou a vitória republicana”. (Cidade do Rio, 14 dez. 1889)
No dia 12 de novembro, os oficiais dos quartéis do Rio de Janeiro se mobilizaram mediante os boatos de prisão de Deodoro da Fonseca, por ordem de D.Pedro II. Os militares cercam o gabinete imperial e o Parlamento.
Nesse dia, D.Pedro II se encontrava na cidade de Petrópolis. A Princesa Isabel escreveu uma carta ao pai, informando sobre a revolta dos militares e pedindo o envio dos príncipes imperiais para Petrópolis.
Na manhã do dia 15 de novembro, Deodoro da Fonseca, com Quintino Bocaiúva e os demais republicanos, decretava o fim do regime monárquico e anunciava a formação de um governo provisório.
A população carioca viu a Proclamação da República mais como um desfile militar do que de mudança de um novo regime. O povo assistiu às mudanças políticas, segundo José Murilo de Carvalho (1987), bestializado e sem reação ao banimento da família imperial.
Patrocínio, no Cidade do Rio, falava como testemunha ocular sobre os acontecimentos que deram a vitória aos republicanos ao descrever os discursos republicanos e a ação dos militares na Câmara Municipal e no palácio imperial antes do golpe de 15 de novembro.
As tropas militares, em 16 de novembro, cercaram o palácio de São Cristóvão, após a chegada de D.Pedro II de Petrópolis. A família imperial se tornou prisioneira dentro do próprio palácio. Deodoro visitou D.Pedro II e anunciou sua decisão de novo Parlamento, em banir a família Imperial do Brasil.
Patrocínio e o jornal Cidade do Rio se pronunciaram, no mês seguinte ao golpe, comentando, em nota sobre o exílio da família imperial, que não houve nenhuma repicar de sinos na catedral do Rio de Janeiro para o povo se despedir da família imperial.
A partir desse momento, Patrocínio se distanciava dos amigos monarquistas, pois não havia sentido em proteger ou defender a causa monárquica, já que não existia mais a Monarquia.
Em apoio aos golpistas, Patrocínio decidiu colocar o jornal Cidade do Rio à disposição do governo provisório e do Partido Republicano. Com este gesto, perdeu amigos e colaboradores monarquistas que apoiaram suas idéias de lealdade a Princesa Isabel e repúdio aos republicanos.
Logo após a Proclamação, Patrocínio renunciou ao mandato de vereador, antes de sua cassação pelo Governo Provisório. Mas nos primeiros três meses da Republica, se decepcionou com Deodoro da Fonseca e com os republicanos que ascenderam ao poder.
Em meio às desconfianças dos republicanos, suas ações na imprensa foram alvo de vigilância, além de ser oficialmente banido das hostes do Partido Republicano, assim como Silva Jardim.
O novo regime não reconheceu Patrocínio como colaborador para o sucesso do golpe de 15 de novembro. Não pode contar com a República para anular empréstimos contraídos e só pode manter em funcionamento o jornal Cidade do Rio por alguns meses. As dividas acumuladas levaram Patrocínio a pedir ajuda aos republicanos que lhe negaram empréstimos.
Combatido e contrariado pelos republicanos, Patrocínio continuou escrevendo seus artigos no Cidade do Rio, numa esfera carregada de disputa política entre civis e militares.
O prestigio dos monarquistas como Nabuco e Rebouças não se extinguiu com o banimento da família imperial. O afastamento da vida pública ou o autoexílio dos monarquistas foram temporários por causa do impacto da mudança de regime.
O silêncio foi a resposta deles à ascensão republicana em 15 de novembro. Muitos amigos de D.Pedro II, como André Rebouças, o acompanharam no exílio na França.
O esquecimento da Guarda Negra pela História do Brasil
Os republicanos, ao assumirem o governo, trataram de apagar todos os resquícios do antigo regime no Brasil. A imprensa foi controlada e a censura imposta. Os jornais monarquistas foram fechados e seus donos presos por ordem do governo.
A segurança e a ordem eram necessárias nas ruas da capital do Rio de Janeiro. O exército foi posto nas ruas para evitar badernas e motins de monarquistas descontentes com o banimento da família Imperial.
O advento da República foi o inicio do banimento das maltas para as prisões na Ilha de Fernando de Noronha. O principal responsável por esta repressão foi o chefe de policia João Batista Sampaio Ferraz que conhecia as maltas, bem como a área de atuação dos capoeiras na freguesia do Glória e no Campo do Santana.
Ferraz foi advogado e promotor de justiça em casos que envolviam as capoeiras, além de ser membro do Partido Republicano. Ele foi redator de jornais republicanos como A República e O Paiz até ser nomeado como chefe da policia da corte.
Sua tarefa era manter as ruas da cidade seguras e evitar atos violentos por parte da população carioca.
A ação policial contra as maltas durou entre 1889 a 1890 com inúmeras deportações como forma para impedir a intervenção do Partido Conservador (extinto) e de políticos que apoiavam os capoeiras.
Uma dessas prisões foi a de Fernão Diogo vulgo Diogo da Lapa ou Diogo Francisco de Oliveira que participou da Guarda Negra do largo da Lapa assim como de dez capoeiras no bairro do Santana em meados de dezembro de 1889.
Essa ação tinha o intuito de desarticular os grupos e por fim ao domínio das maltas na cidade do Rio de Janeiro a partir de 1890. Isso foi somente o inicio de ações que visou o banimento das maltas e o fim da criminalidade atribuída a capoeira nas ruas do Rio de Janeiro durante toda a República Velha.
Considerações finais
A Guarda Negra foi um grupo reunido pelos abolicionistas e composto por ex-cativos e negros alforriados que praticavam a capoeira. O grupo queria a continuidade da Monarquia com a Princesa Isabel que os havia libertado do cativeiro no sistema escravista.
A gratidão à Princesa e o desejo de participarem como cidadãos na sociedade carioca levaram os negros ao fanatismo e ao ódio contra o movimento republicano e aos fazendeiros escravistas.
As fontes e a bibliografia sobre a Guarda Negra e José do Patrocínio apontam os objetivos do grupo em proteger a Princesa Isabel e os estatutos de fidelidade a Monarquia que os seus membros deveriam seguir foram publicados nas páginas do jornal Cidade do Rio.
Os registros sobre a existência do grupo, bem como suas ações pacificas ou violentas, estão em artigos de José do Patrocínio, no Cidade do Rio, entre os anos de 1888 e 1889, e nos de Rui Barbosa, no Diário de Notícias, no ano de 1889.
Esses jornais circularam na cidade do Rio de Janeiro entre os anos de 1885 até o advento da República em 1889.
Divulgavam em seus artigos e editais opiniões sobre a campanha abolicionista, fatos que antecederam a Lei Áurea, o pensamento republicano, os conflitos entre monarquistas e republicanos. Também relataram as ações da Guarda Negra entre os anos de 1888 e 1889.
Nas pesquisas de Uelinton Farias Alves (2009) houve alguns grupos que se intitularam Guarda Negra no Maranhão e Rio Grande do Norte.
Mas, de acordo com Alves, esses grupos não eram hostis à República e suas ações eram pacificas e restritas ao apoio à Princesa Isabel e à Monarquia.
Conforme as pesquisas apontam nos artigos sobre a Guarda Negra não houve propostas sobre distribuição de terras para o negro ou de uma educação efetiva para ingresso no mercado de trabalho.
Nos questionamentos sobre a criação desse grupo analisamos sua ideologia, de acordo os artigos de Patrocínio, não há fontes que considerava a Guarda Negra um partido político assistencialista cuja meta era a alfabetização dos libertos e a proteção à Princesa Isabel.
A Guarda Negra não havia surgido antes do processo abolicionista, pois era inviável armar um grupo dos escravos contra seus senhores, com exceção das maltas de capoeiras a serviço dos partidos políticos antes da abolição.
O objetivo dos abolicionistas, na campanha abolicionista, era uma libertação imediata dos escravos. Eles pretendiam efetivar a Abolição e a posterior inclusão dos ex-escravos no trabalho livre.
Essa foi a proposta do grupo reunido por José do Patrocínio, em setembro de 1888, na redação do Cidade do Rio.
O Isabelismo e a violência em nome da Monarquia negam toda a ideologia exposta por Patrocínio no Cidade do Rio. Os artigos desse jornal apontam que o grupo seria uma muralha de proteção à Redentora e ajudaria os ex-escravos na instrução e na alfabetização, já que os lideres da Guarda Negra eram alfabetizados e assalariados.
No entanto, para a imprensa carioca a Guarda Negra foi formada num momento em que a liberdade do negro legitimava seus atos de violência.
A repressão do Estado Imperial, que imputava aos crimes de escravos a pena de morte ou as galés, ficou sem efeito legal. Com a liberdade dos escravos, as leis de 1831 deixaram de ter seu valor jurídico e não foi feito um novo código criminal no qual pudesse ser incluído o negro livre.
Isso justificou, de certa forma, a inércia do Estado em reprimir a violência dos libertos nas ruas do Rio de Janeiro e os conflitos entre ex-escravos e os fazendeiros escravistas, adeptos do Partido Republicano.
As ações violentas da Guarda Negra não foram punidas, mas somente reprimidas pela polícia do Rio de Janeiro, pois nos registros criminais, segundo Mattos (2009), não há especificação de que os negros presos em atos violentos fossem membros desse grupo, apesar dos relatos descreverem os negros, como praticantes da capoeira.
A preocupação dos republicanos em apagar a memória de Isabel como heroína da Abolição e marginalizar os grupos de capoeiras.
Demonstravam os receios do Partido Republicano, em ter que intervir em conflitos entre brancos e negros, em meio uma crise no Império. O partido não queria uma guerra civil ou uma resistência de uma parte da elite a favor da Monarquia.
A inércia popular nos remete a pensar porque a Guarda Negra não fez nada para evitar o banimento da família real, por que não enfrentou as tropas militares ou impediu a instalação da República.
Nas pesquisas sobre o golpe republicano, há um grande silêncio da imprensa carioca sobre a reação da Guarda Negra e de seus membros ao golpe de 15 de novembro de 1889.
Desde o último ataque aos comícios republicanos, em julho de 1889, não houve mais nenhuma ocorrência violenta do grupo nas ruas do Rio de Janeiro, que fossem relatados pela imprensa.
Houve, de fato, uma total desarticulação das maltas com a repressão imposta pela policia e pelo Gabinete Ouro Preto, devido as criticas da imprensa a violência dos capoeiras.
O afastamento de Patrocínio e de alguns membros do Partido Conservador enfraqueceram as milícias. Não há ainda, de acordo com as fontes consultadas, informações sobre a detenção de chefe da Guarda Negra, Clarindo de Almeida ou o afastamento dos negros das maltas, por causa da reação igualmente violenta dos republicanos, nos comícios nas ruas do Rio de Janeiro.
A repressão de Sampaio Ferraz foi apontada como o fim da capoeira politizada oriunda do Império e do domínio político do Partido Conservador na Corte.
Sabemos que o anseio de Patrocínio em liderar a Guarda Negra, no combate aos republicanos, foi anulado pelo gesto de repúdio ao gabinete de Visconde de Ouro Preto e o afastamento dos amigos monarquistas.
Naquele momento, a Guarda Negra deixou de ter o apoio dos demais abolicionistas como Emilio Rouedé e Olavo Bilac. Eles não concordaram com os rumos que o grupo tomou devido à violência em relação ao Partido Republicano.
Mesmo com o afastamento de Patrocínio da Guarda Negra, suas ações contraditórias entre permanecer republicano ou aderir a um monarquismo fanático levaram-no a perder importantes amigos e a atrair a desconfiança dos antigos colegas republicanos, que o ajudaram desde o início de sua ascensão no jornalismo carioca.
As críticas à postura de Patrocínio como monarquista foram feitas por seus antigos companheiros como Quintino Bocaiúva e Rui Barbosa que o apontavam como falso.
Patrocínio não queria perder os financiadores do jornal Cidade do Rio, que aplicavam recursos para a sua circulação e eram partidários da Monarquia.
Ele tinha, também, interesses políticos de conseguir visibilidade e altos cargos no governo Imperial, já que Patrocínio somente conseguiu se eleger vereador em meio à campanha abolicionista.
Portanto, todas as suas ações, como jornalista e político, visavam sua ascensão pessoal na sociedade carioca, tendo como pano de fundo a campanha abolicionista e a formação da Guarda Negra.
Osvaldo Orico (1977) comenta que a única mancha na memória do grande abolicionista foi criar a Guarda Negra. A decadência de Patrocínio no jornalismo começou com as criticas sobre a criação do grupo e sua ação violenta, divulgadas na imprensa carioca.
Assim, a Guarda Negra foi um dos instrumentos das ambições de José do Patrocínio no jornalismo e na política imperial, pois desejava transformar o grupo num partido político somente com negros semi-alfabetizados. Mas fracassou, assim como em controlar a violência do grupo.
O culto ao Isabelismo e os louvores á Monarquia foram instantaneamente esquecidos com a formação do gabinete de Visconde de Ouro Preto, em julho, e o golpe de 15 de novembro de 1889.
Somente seu gesto de colocar o jornal Cidade do Rio à disposição dos golpistas ,deixa claro que não houve de fato sinceridade em seus artigos de exaltação à Princesa Isabel e à Monarquia.
A rápida adesão de Patrocínio à República e seu envolvimento na conspiração republicana, antes do golpe de Deodoro da Fonseca e do Partido Republicano, demonstra todo o interesse do jornalista em se integrar ao novo governo.
Para obter algum cargo no Governo Provisório era necessário tentar se filiar novamente no Partido Republicano. Essa foi a forma encontrada por Patrocínio para não perder sua posição como jornalista, na imprensa carioca.
As negociações com o novo regime ajudaram a manter em circulação o jornal Cidade do Rio, que se tornaria um órgão a favor da República até 1903, ano de falência do mesmo. Patrocínio morreu dois anos depois, em meio à pobreza e reconhecendo seu erro em ter criado e apoiado a Guarda Negra.
FONTE
http://guardanegra.blogspot.com.br/?view=classic
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