Ao leitor leigo que teve a coragem de clicar neste artigo não obstante seu título nada atraente, prometo meu máximo esforço para tornar esta leitura palatável e perfeitamente compreensível.
O assunto pode parecer árido e desinteressante à primeira vista, porém é o mais importante de toda a economia. Afinal, é justamente o sistema bancário quem multiplica a quantidade de dinheiro na economia e, consequentemente, afeta a oferta de crédito.
Qualquer assunto que envolva a criação e a manipulação de dinheiro e da oferta de crédito possui mais impacto sobre a economia do que qualquer pacote de estímulo fiscal, qualquer regulamentação, qualquer parceria público-privada. A diferença é que o impacto surge mais no longo prazo e quase sempre suas reais causas não são compreendidas. A manipulação da moeda de um país é algo que afeta a todos, mas em proporções muito distintas. Alguns ganham e muitos (a maioria) perdem.
Se você entender este artigo, entenderá como realmente funciona o nosso atual sistema financeiro — e o considerará, no mínimo, muito estranho.
Estrutura
As relações entre o Banco Central e o sistema bancário já foram exaustiva e detalhadamente cobertas em uma série de artigos deste site (dentre os quais, sugiro este, este e este), de modo que neste artigo vamos nos concentrar mais na mecânica do sistema bancário.
Mais especificamente, vamos nos ater às seguintes questões: como de fato os bancos criam dinheiro, expandem o crédito e afetam toda a economia? Seria possível o sistema bancário criar moeda e expandir a oferta de crédito continuamente caso não houvesse um Banco Central? Como os bancos podem atender ao apelo daquele animador de circo que ocupa o cargo de Ministro da Fazenda e sair concedendo crédito a rodo? A inflação de preços no Brasil, teimosamente alta, tem a ver com o nosso sistema bancário?
Os três primeiros artigos linkados acima detalham como o Banco Central, por meio de suas compras de títulos públicos que estão em posse do sistema bancário, deposita dinheiro (meros dígitos eletrônicos criados do nada, ao simples apertar de uma tecla de computador) em uma conta que os bancos mantêm junto ao Banco Central. Estes dígitos recém-adicionados às suas contas são então utilizados pelos bancos para expandir a oferta de crédito em uma quantidade várias vezes maior do que a quantidade de dígitos criada pelo Banco Central.
Isso é apenas o básico. Os detalhes, no entanto, explicam muita coisa. Vamos a eles.
Os dez principais bancos brasileiros, elencados pelo valor de seus ativos, são: Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, BNDES, Caixa Econômica Federal, Santander, HSBC, Votorantim, Safra e BTG Pactual. Menção honrosa para o Citibank em 11º e para o Banrisul em 12ª, inflando o orgulho dos gaúchos.
Olhando esta lista — e excluindo o BNDES pelo fato de ele não ser um banco comercial no sentido estrito do termo, isto é, com correntistas pessoas físicas —, é fácil perceber como o sistema bancário brasileiro é concentrado. Afinal, quantas pessoas você conhece que são correntistas apenas do Votorantim, do Safra, do BTG Pactual e do HSBC? Votorantim e BTG sequer trabalham com caderneta de poupança. E os ativos do Santander, quinto da lista sem o BNDES, são a metade dos do Itaú, o segundo da lista.
Logo, se, por exemplo, o Itaú emprestar dinheiro para alguém, o dinheiro deste empréstimo muito provavelmente acabará sendo depositado ou em uma agência do BB, ou em uma do Bradesco, ou em uma da CEF, ou em uma do próprio Itaú. Com uma menor probabilidade, este dinheiro pode ir para o Santander. E com muito menos probabilidade, ele pode ir para qualquer outro banco.
(E se considerarmos a hipótese mais realista de que empréstimos vultosos feitos por uma instituição tendem a ser pulverizados para vários cantos da economia, as chances de que uma fatia deste dinheiro volte para a própria instituição bancária que originou o empréstimo é bem grande.)
Todos estes prolegômenos têm um só objetivo: mostrar que o sistema bancário brasileiro é extremamente concentrado. Fazendo uma simplificação relativamente realista, não é exagero dizer que temos apenas 5 bancos: BB, Itaú, Bradesco, CEF e Santander. Com boa vontade, podemos incluir o HSBC, cujos ativos são quase nove vezes menores que os do BB.
Isto significa que, sempre que BB, Itaú, Bradesco ou CEF fizerem um empréstimo, a chance de uma fatia deste dinheiro voltar para eles próprios é bem alta. Mais especificamente, sempre que o BB, por exemplo, faz um empréstimo vultoso, pode-se dizer que 20% (um quinto) deste dinheiro volta para ele.
Juntos, BB, Itaú, Bradesco, CEF e Santander detêm 74% dos ativos de todo o sistema bancário.
E as consequências disso são muitas.
As características do atual sistema bancário
CONTINUA AQUI.
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1387
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